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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS

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Número 472 – 08 de janeiro de 2010

Car@s Amig@s,

Um feliz 2010, com menos transgênicos e menos aquecimento global!

Monsanto: estrela no mundo dos negócios, mas eleita a maior vilã do clima

A revista americana de negócios e finanças Forbes elegeu a Monsanto “empresa do ano de 2009”. Conforme adiantou a Folha Online em 31/12 (repercutindo notícia da EFE de Nova York), a edição da revista que chegará às bancas em 18 de janeiro contém um artigo (já disponível na internet) que justifica a escolha citando os estrondosos lucros da empresa e os avanços em bioengenharia que, segundo a publicação, ajudarão a alimentar a crescente população mundial.

O artigo informa que, mesmo em um ano de recessão econômica, a Monsanto lucrou cerca de US$ 2,1 bilhões e faturou US$ 11,7 bilhões, o que representa um aumento médio anual de 18% em sua receita durante os últimos cinco anos.

Com um valor na bolsa de US$ 44 bilhões, a empresa vendeu em seu último exercício fiscal, fechado em 31 de agosto, 7,3 bilhões de sementes, frente aos 4 bilhões comercializados pela concorrente imediata, a Dupont.

As polêmicas em torno da empresa são quase ridicularizadas no artigo, que chega a dizer que agora “até alguns produtores orgânicos estão clamando pelas sementes transgênicas”. O texto repete todos os mitos em torno da biotecnologia (dizendo que as sementes modificadas são mais produtivas, demandam menos agrotóxicos e beneficiam o meio ambiente) e ironiza ao dizer que, embora os produtores reclamem dos preços das sementes, continuam a comprá-las.

Aliás, sobre este particular, o artigo sugere que as críticas atuais às sementes transgênicas se devem ao fato de elas serem “boas demais”, o que teria dado à empresa uma situação próxima ao monopólio em alguns mercados de sementes.

Vale lembrar que a Monsanto está sendo investigada pelo Departamento de Justiça dos EUA e por pelo menos dois procuradores gerais de Estado, que estão avaliando se as práticas da empresa violam as leis antitruste do país. Essas práticas, que incluem acordos de licenciamento e contratos confidenciais, também estão no centro de processos civis antitruste contra a Monsanto apresentados por seus concorrentes, incluindo um processo de 2004 apresentado pela Syngenta AG, que foi decidido por meio de um acordo, e um litígio ainda em curso com a DuPont (para sabe mais, leia reportagem da Associated Press traduzida pelo Instituto Humanitas Unisinos).

Na verdade, o prêmio que deveria realmente ter recebido destaque na imprensa foi aquele anunciado na Conferência Mundial do Clima, em Copenhague, em 15/12/2009: o “Troféu Sereia Zangada” (no Brasil, somente noticiado pela Revista Isto É – Dinheiro de 23/12).

O prêmio foi concebido por um grupo de seis ONGs, incluindo a Friends of the Earth International, para denunciar o pior lobista corporativo do clima em Copenhague. O troféu, que faz alusão a um dos principais símbolos turísticos de Copenhague (a estátua da “pequena sereia” localizada numa pedra à beira-mar), foi criado para denunciar o perverso papel dos lobistas corporativos e evidenciar os grupos empresariais e empresas que fizeram o maior esforço para sabotar as discussões e medidas sobre o clima, enquanto promoviam falsas — porém lucrativas — soluções.

A pequena sereia, zangada com destruição provocada pelas mudanças climáticas, teria convocado uma pesquisa de opinião para escolher e denunciar o vencedor.

A Monsanto foi eleita com 37% dos votos por um público de 10.000 pessoas, que votaram entre 16/11 e 13/12/2009. A Shell ficou em segundo lugar, com 18% dos votos, e o American Petroleum Institute em terceiro, com 14%. A lista completa incluía oito empresas.

A Monsanto foi escolhida por promover suas lavouras transgênicas como uma solução para as mudanças climáticas e por empurrá-las para o uso em biocombustíveis. Além disso, a expansão da soja transgênica na América Latina está contribuindo para o desmatamento e expressivas emissões de gases do efeito estufa.

O grupo relata ainda que a Mesa Redonda sobre Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês), da qual a Monsanto faz parte, está ajudando a promover a empresa ao permitir que a soja transgênica seja rotulada como “responsável”. A Monsanto também quer que a soja transgênica seja financiada pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que permitiria que indústrias poluidoras no mundo desenvolvido compensassem suas emissões comprando créditos de carbono de projetos com soja transgênica (uma falsa solução para as mudanças climáticas e que não leva à redução de emissões nos países ricos).

Sim, a ficha da Monsanto não tem nada de limpa e o Troféu Sereia Zangada é muito mais merecido que o título de “empresa do ano”.

Aliás, para quem ainda não conferiu, vale a pena assistir o documentário “O Mundo Segundo a Monsanto”, da jornalista francesa Marie-Monique Robin, disponível em: http://stopogm.net/?q=node/548

O livro homônimo também já foi lançado no Brasil e pode ser comprado pelo site: http://www.aspta.org.br/por-um-brasil-livre-de-transgenicos/documentos/promocao-de-livros

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Neste número:

1. Monsanto registra prejuízo trimestral e vendas mais enxutas

2. Soja com ômega 3: vantagens de fato?

3. Syngenta e Dow fecham acordo sobre sementes transgênicas de algodão

4. Tenente que perseguia MST é acusado de tráfico internacional de armas, drogas e formação de quadrilha

Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura

Sementes crioulas para resistir às mudanças no clima

Dica de fonte de informação:

A Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro lançou um blog que contém vídeos sobre experiências em agroecologia no estado, informações sobre onde comprar alimentos agroecológicos e links para outras páginas de interesse sobre o tema, como o Agroecologia em Rede, onde estão registradas 74 experiências fluminenses.

http://articulacaorj.blogspot.com/

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1. Monsanto registra prejuízo trimestral e vendas mais enxutas

Pelo jeito nem ponto de vista estritamente econômico a Monsanto merece o título de “empresa do ano” em 2009. Simultaneamente à divulgação da condecoração, aparece a notícia de que a companhia fechou o último trimestre fiscal com prejuízo. A notícia é do Valor Online:

“A Monsanto fechou o primeiro trimestre fiscal de 2010, encerrado em novembro do ano passado, com prejuízo de US$ 19 milhões. Em mesmo intervalo do exercício anterior, a empresa obteve lucro de US$ 556 milhões.

As vendas líquidas somaram US$ 1,697 bilhão, redução de 36% em comparação aos US$ 2,649 bilhões do calendário antecedente.

A empresa sentiu uma queda nas vendas de herbicidas a base de glifosato, especialmente no Brasil e na Europa. O desempenho de vendas de sementes ficou praticamente estável, mas o de herbicidas recuou em dois terços no trimestre.

Apesar do prejuízo no trimestre fiscal, a empresa espera alcançar a meta de lucro de US$ 2,85 a US$ 3,11 por ação no exercício completo.”

Fonte:

Valor Online, 06/01/2010.

http://www.valoronline.com.br/?online/agronegocios/78/6033497/monsanto-registra-prejuizo-trimestral-e-vendas-mais-enxutas

2. Soja com ômega 3: vantagens de fato?

Entre as maravilhas que a Monsanto tem propagandeando recentemente para lançamento no futuro próximo está a soja transgênica rica em ômega 3, um ácido graxo que reduz o risco de doenças cardíacas e confere uma gama de outros benefícios à saúde. Segundo a empresa, o novo produto traria benefícios para os agricultores, consumidores e para os mares, vítimas da sobrepesca.

Mas uma compilação de dados extraídos de diversos artigos sobre a questão aponta vários problemas com a soja ômega 3:

1. Salvando os mares da sobrepesca?

– É improvável que esta soja transgênica vá salvar as populações de peixe, uma vez que os peixes ricos em ômega 3 continuarão a ser (insustentavelmente) pescados para a alimentação, para a aqüicultura e para alimentação animal.

– A solução para a sobrepesca não tem nada a ver com a criação de fontes terrestres de ômega 3. Tem sim a ver com leis internacionais que limitem a pesca e com a fiscalização do cumprimento dessas leis.

– O ômega 3 é, na verdade, produzido por algas, que são comidas pelos peixes. Por que não, simplesmente, produzir algas e extrair delas o ômega 3, ao invés de depender apenas de peixes ou plantas transgênicas? Já existe pesquisa sendo realizada nesta área.

– Não é apenas a pesca, obviamente, que provoca problemas ambientais. Produção massiva de soja também provoca sérios danos para o meio ambiente.

2. Melhorando nossas dietas?

– A biofortificação não substitui uma dieta saudável e balanceada baseada na agricultura ecológica. Outras vitaminas e compostos são importantes — esta questão só poderá ser tratada adequadamente através de uma abordagem que integre a dieta e o meio ambiente.

– Quando há uma dieta balanceada e saudável não existe a necessidade de aditivos em alimentos processados. Pelas mesmas razões, fome, pobreza e problemas nutricionais em países em desenvolvimento não podem ser resolvidos com o plantio de commodities em larga escala.

– A abordagem “nutriente-por-nutriente” usada para fabricar gorduras “saudáveis” e inseri-las na cadeia alimentar é essencialmente um engodo. A produção industrial de carne e o uso de produtos como o óleo vegetal em margarina mudou a dieta das pessoas, que passou a consistir crescentemente de gorduras não saudáveis. Fabricar ômega 3 através da engenharia genética e inseri-lo em dietas fundamentalmente pobres não é uma proposta digna de crédito para melhorar a saúde das pessoas.

3. Não suficientemente testada

– A abordagem transgênica envolve percorrer um complexo caminho bioquímico para dentro de uma planta. As plantas possuem químicas muito complexas. Interferir nesta química pode provocar uma série de efeitos colaterais não esperados e imprevisíveis — por exemplo, poderiam outros químicos ser criados como subprodutos, além do ômega 3?

– É impossível avaliar a segurança dos alimentos transgênicos com base nas regras de avaliação existentes atualmente, uma vez que elas não olham de perto o suficiente nenhum dos compostos não esperados.

4. Contaminação da cadeia alimentar

– O problema em inserir ingredientes supostamente saudáveis na base da cadeia alimentar é que pode não ser possível reverter a contaminação se algo der errado. No longo prazo, outros produtos serão contaminados: isto não acontece quando novos ingredientes são adicionados a um produto final processado, ao invés de em uma planta.

– Mesmo sendo a soja uma planta de polinização aberta, a contaminação inevitavelmente ocorre, por exemplo, através da mistura não intencional com soja convencional.

– A Basf diz que está desenvolvendo uma canola transgênica similar. Será um desastre, pois sabemos que a canola poliniza outras plantas à longa distância, levando rapidamente à contaminação generalizada de lavouras vizinhas.

Fonte:

GMWatch, 08/11/2009.

http://www.gmwatch.org/index.php?option=com_content&view=article&id=11657:problems-with-monsantos-omega-3-gm-soybeanhttp://bit.ly/VyAwi

3. Syngenta e Dow fecham acordo sobre sementes transgênicas de algodão

O Valor Econômico foi um dos jornais a publicar, em 06/01, que “A Syngenta anunciou acordo pelo qual concederá à Dow AgroSciences licença para desenvolver e comercializar combinações do seu evento COT102 de algodão transgênico. O acordo também prevê licença para a Dow vender nos Estados Unidos um número de variedades de algodão VipCot, de tolerância ao glifosato, sob a marca PhytoGen algodão.”

É o mercado se concentrando cada vez mais e oligopólio se fortalecendo.

4. Tenente que perseguia MST é acusado de tráfico internacional de armas, drogas e formação de quadrilha

O tenente-coronel da PM Valdir Copetti Neves foi condenado a 18 anos de prisão pela Justiça Federal por tráfico internacional de arma de fogo, de drogas e por formação de quadrilha. Copetti Neves comandava uma quadrilha que fazia a segurança ilegal de propriedades rurais na região de Ponta Grossa, próximo à capital do estado. A quadrilha era responsável pela perseguição, intimidação e tortura de trabalhadores rurais sem terra. Na condenação, consta ainda que o bando fornecia armas ilegais e drogas, que eram “plantadas” para a incriminação indevida de outras pessoas. Ele e os outros acusados devem recorrer a sentença e permanecer em liberdade. (…)

As organizações e movimentos sociais do Paraná há muito denunciam a atuação truculenta de Copetti Neves. Em 2005, durante a realização da CPMI da Terra, foram apresentadas diversas testemunhas e vítimas de torturas realizadas por Copetti Neves, além de documentos comprovando o envolvimento do policial nas milícias privadas contratadas pelos fazendeiros. Contrariando os fatos, a CPMI aprovou o relatório apresentado pelo deputado e também ruralista Aberlardo Lupion (DEM/PR), que não cita os assassinatos ocorridos no campo, os despejos ilegais e nem as operações deflagradas no estado do Paraná, como a Março Branco [que levou Copetti Neves à prisão por fornecer segurança ilegal a fazendeiros] e a Paz no Campo. Na época, o relatório da CPMI foi considerado tendencioso e omisso com relação aos problemas e conflitos do campo. (…)

Fonte:

Terra de Direitos, 18/12/2009.

http://terradedireitos.org.br/agenda/tenente-que-perseguia-mst-e-acusado-de-trafico-internacional-de-armas-drogas-e-formacao-de-quadrilha/

Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura

Sementes crioulas para resistir às mudanças no clima

A ASPTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa publicou um recente trabalho sobre o desempenho das sementes crioulas de milho – aquelas que não passaram por melhoramento genético [sic] – em regiões de Santa Catarina que foram afetadas por fortes chuvas em 2008. O cultivo delas segue o princípio agroecológico na produção sustentável de alimentos sem pesticidas. Os dados revelam que as perdas dos produtores foi 20% menor em relação às lavouras convencionais, que apresentaram produtividade de 4,5 mil quilos por hectare, custo de produção de 2 mil reais por hectare e prejuízos médios de 762 reais por hectare. As plantações da agroecologia tiveram produtividade pouco menor (4,2 mil quilos) e custo médio de 200 reais por hectare. A intenção da ONG é divulgar que as sementes crioulas podem ser opção segura para a agricultura familiar em épocas de clima alterado.

Fonte: Revista Globo Rural, Publicação de Dezembro/2009.

N.E.: O estudo divulgado pela Revista Globo Rural (que também já havia sido comentado no Boletim 439) foi publicado na revista Agriculturas – Experiências em Agroecologia e está disponível em:

http://agriculturas.leisa.info:80/index.php?url=getblob.php&o_id=230088&a_id=211&a_seq=0

N.E.2: Trata-se de uma imprecisão técnica definir as sementes crioulas como “aquelas que não passaram por melhoramento genético”. As sementes crioulas são conservadas e melhoradas pelos agricultores familiares e populações tradicionais ao longo de muitos séculos, tornando-se altamente adaptadas às condições de solo e clima das mais diferentes regiões de cultivo e às práticas tradicionais e ecológicas de manejo agrícola.

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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos

Este Boletim é produzido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e é de livre reprodução e circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.

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