Diário de Cuiabá, 15/12/2013

MARIANNA PERES
Da Editoria

Plantas de milho que sobreviveram à entressafra, em Mato Grosso, e germinaram nos campos, foram batizadas de milho guaxo, aquele que como a soja, nasce de forma voluntária e fora de época, e que acaba sendo um problema aos produtores. Os pés que não deixam de ser uma planta daninha estão presentes em meio às lavouras de soja e a sua difícil eliminação começa a trazer preocupações, pois acaba sendo uma a mais para disputar espaço, nutrientes e água com a soja e que vai demandar recursos para seu banimento. O milho guaxo se apresenta como ameaça à lavoura e às margens dos sojicultores.

Como explica o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), houve relatos da existência e da resistência dele na safra passada. Esse milho guaxo é transgênico e por isso há uma dificuldade maior para destruição. “O milho guaxo resulta dos grãos perdidos durante a colheita da segunda safra. Ele cresce em meio à soja em estágio vegetativo que caminha para o estágio produtivo. A resistência foi constatada na safra passada, mas este ano a situação se agravou. Já estamos alertando há duas safras sobre o problema e os prejuízos que podem causar”.

Conforme alerta a entidade, essa ocorrência é séria e essa presença indesejada preocupa por três grandes motivos. Primeiramente, pelo custo que o produtor terá com a aplicação de herbicidas, pois o milho RR (transgênico) é resistente ao princípio ativo do glifosato. Em segundo, o milho invasor funciona como uma planta hospedeira, tornando-se uma boa fonte para disseminação de pragas, servindo de alimento e proteção para a lagarta Helicoverpa, por exemplo. E terceiro, pelo milho se tornar uma planta daninha que acaba competindo com a soja pelos nutrientes e água.

Saindo do campo, o prejuízo pode ser ainda maior. Da porteira para fora o maior temor é o de que haja mistura de grãos de soja com os de milho durante a colheita e isso irá sem dúvida acarretar em maiores descontos pelas empresas (tradings). E quanto maior o desconto, menos o produtor recebe. O aumento do índice de impurezas em meio à soja seria uma consequência da presença do milho guaxo.

ATENÇÃO – Nas visitas realizadas pela equipe técnica da Aprosoja/MT às lavouras de soja, em Mato Grosso, a maior concentração do problema foi constatada em locais onde houve o cultivo de segunda safra com o milho RR, e até mesmo em híbridos não RR. Dentre os possíveis motivos estão: a polinização do milho “não RR” por híbridos RR, cultivados em áreas próximas, e a mistura de sementes de milho RR em híbridos não RR.

PRESSÃO DE CUSTOS – A Aprosoja/MT alerta: o já elevado custo de produção pode ficar ainda maior para o produtor ao lidar com pragas, doenças e plantas daninhas. E é nesse ponto que as ações de monitoramento e orientação técnica profissional fazem a diferença.

Os dados levantados pela quinta edição do Circuito Tecnológico – expedição realizada pela entidade em outubro – mostram que a necessidade do uso de inseticidas para o combate das pragas é uma preocupação, tanto pela presença generalizada da Helicoverpa, como de outras pragas que são velhas conhecidas dos produtores. Nos questionários, a Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includes) aparece em 73% das menções, os percevejos em 53%, a Helicoverpa em 45%, a lagarta do gênero Spodoptera em 26%, a Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) em 9%, e outras pragas são mencionadas em 42% das entrevistas.

A elevação no preço dos defensivos é de 22%, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), somando um custo aos produtores de R$ 419,53 por hectare. Esse valor pode sofrer alterações ainda maiores no decorrer da safra, em ocasião da ocorrência da lagarta Helicoverpa que pode gerar uma possível elevação nas aplicações específicas para esta praga.

Segundo Nery Ribas, considerando que duas aplicações seriam avaliadas como normais para lagarta, não haveria alterações no custo de produção, entretanto, a partir da terceira aplicação feita especificamente para Helicoverpa, o produtor estaria elevando em média 1,2% seu custo de produção por aplicação. “O produtor precisa monitorar a sua lavoura e ter o acompanhamento de um técnico, para que haja um bom controle de pragas e para que não ocorra um desequilíbrio nutricional, e com isso, o custo de produção tenha elevação maior”.

Os dados do Circuito Tecnológico também mostram a preocupação com doenças na soja. A ferrugem asiática aparece em 86% das propriedades visitadas como a principal doença, seguida pela antracnose com 69%. Com os recentes diagnósticos de ferrugem em várias localidades do Estado, a orientação é para que o produtor fique atento e monitore as lavouras, evitando assim as perdas econômicas geradas pela queda no rendimento de grãos. (Com assessoria)