Suinocultura Industrial (via Valor Econômico, 17/03/2014)
A contaminação dos alimentos para consumo humano e animal comercializados no mundo com culturas geneticamente modificadas está aumentando na medida do crescimento da produção mundial. A constatação é de uma pesquisa feita pela agência para a Alimentação e Agricultura da Organização das Nações Unidas (FAO).
A pesquisa, feita em 75 países, revelou 198 incidentes de “baixos níveis” de culturas geneticamente modificadas misturadas com culturas convencionais entre os anos de 2002 e 2012, informou a agência da ONU baseada em Roma, em um relatório disponibilizado na internet. O número de casos saltou entre 2009 e 2012, com 138 das constatações reportadas nesse período.
O plantio global de culturas geneticamente modificadas cresceu 3% para o recorde de 175,2 milhões de hectares no ano passado, segundo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês). As culturas modificadas enfrentam oposição política na União Europeia (UE).
“Os incidentes estão provocando perturbações comerciais entre países, com o bloqueio de importações de carregamentos de grãos, cereais e outras culturas, e a destruição ou devolução de produtos para seus países de origem”, afirma o relatório da agência da ONU.
Os alimentos são o terceiro maior grupo de produtos comercializados no mundo, perdendo apenas para os combustíveis e os produtos químicos, com os valores exportados avaliados em US$ 1,375 quatrilhão em 2012, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). As exportações globais de todos os produtos agrícolas somaram US$ 1,657 trilhão, ainda segundo a OMC.
O maior número de incidentes envolveu culturas como linhaça, arroz, milho e mamão, informou a agência. Os carregamentos de culturas com baixos níveis de modificação genética tiveram origem principalmente nos Estados Unidos, no Canadá e na China, segundo o relatório.
A China, segunda maior consumidora de milho do mundo, começou em outubro a rejeitar alguns lotes do grão provenientes dos EUA, que continham MIR 162, uma variedade geneticamente modificada de milho desenvolvida pela Syngenta e que não foi aprovada no país.
Países da UE como França, Reino Unido e Alemanha rejeitaram dezenas de carregamentos de macarrão da China nos últimos quatro anos, pois eles continham arroz geneticamente modificado e não autorizado. As importações de sementes de linhaça do Canadá pela UE caíram depois da descoberta, em 2009 e 2010, de uma variedade biotecnológica não autorizada chamada CDC Triffid.
“O número de incidentes é pequeno em relação aos milhões de toneladas de alimentos para consumo humano e animal comercializados todos os dias”, diz Renata Clarke, uma funcionária graduada da FAO que trabalha com segurança alimentar e que esteve encarregada da pesquisa.
A FAO conduziu a pesquisa nos 193 países-membros entre fevereiro e junho do ano passado. Dos 75 que responderam, 55 afirmaram ter uma política de tolerância zero em relação a culturas modificadas geneticamente sem autorização, enquanto 17 disseram não ter nenhuma regra para os alimentos para consumo humano e animal no que diz respeito à segurança, ou mesmo regras ambientais para as culturas geneticamente modificadas.
Dos países que responderam, 37 disseram ter pouca ou nenhuma capacidade de detectar culturas geneticamente modificadas, diz a FAO. “Ficamos surpresos ao ver incidentes em todas as regiões”, diz Clarke. “Parece que quanto maiores os testes e o monitoramento feitos por eles, mais incidentes eles constatam”.