A reportagem abaixo, do Zero Hora do último dia 12, mostra o problema que há décadas enfrentam produtores vizinhos de plantações banhadas com herbicidas de amplo espectro ou outros produtos que afetam lavouras, pomares, hortas, pastos e criações. A matéria traz o depoimento de um produtor que teve suas videiras queimadas pelo 2,4-D pulverizado em soja a mais de 1,5 km de distância. Note que o veneno foi empregado para controlar o mato que ficou resistente ao glifosato usado no sistema da soja Roundup Ready. Como se não bastasse, em breve a CTNBio deve aprovar soja transgênica resistente ao 2,4-D, que só fará aumentar o uso e os impactos desse nocivo veneno. E tem gente que ainda chama isso de tecnologia moderna…12 de fevereiro de 2010 | // EFEITO HERBICIDA
O prejuízo que vem do vizinho
Fruticultores reclamam de perdas na produção
Ao controlar ervas daninhas da soja, produtores rurais podem ter causado prejuízo em pomares de propriedades vizinhas. Fruticultores que trabalham com uvas e pêssegos se queixam de problemas no desenvolvimento das plantas e perdas. Os danos nos pomares tiveram início entre novembro e dezembro, época em que os sojicultores matam as ervas daninhas antes do plantio. Os fruticultores colocam a culpa no herbicida com o princípio ativo 2,4-D (ácido diclorofenoxiacético).
O uso do produto teria sido retomado para matar a buva, considerada a principal erva daninha da oleaginosa. É um inço comum no sul do Brasil, que vinha sendo controlado com o herbicida glifosato, o qual passou a ser muito utilizado com o plantio da soja transgênica. No entanto, a erva daninha nos últimos anos tornou-se resistente ao produto. O 2,4-D, além de ser proibido em alguns municípios gaúchos, estava esquecido havia anos, em razão da preferência pelo glifosato.
As videiras de Claudio Vicentini tiveram o desenvolvimento estagnado por cerca de 20 dias, em Coronel Bicaco. O formato das folhas mais novas mudou. O pomar está em formação. Não deu frutos ainda:
– Foi imediato, logo após aplicação numa lavoura a 1,5 mil metros. O herbicida pegou uma corrente de ar e no dia seguinte apareceram os primeiros sintomas. No quinto ou sexto dia, mudou o formato das folhas novas.
Em Bom Progresso, Rudilei Lange, 35 anos, perdeu todo o pêssego de uma variedade tardia. Lange, que também é técnico agrícola, percebeu que duas semanas depois da aplicação de herbicida em uma lavoura de soja próxima caíram as folhas dos pessegueiros. Os frutos também foram ao chão. A polícia ambiental fez levantamento na propriedade de Lange.
– Originou um pêssego miúdo e amargo, sem valor comercial. Atingiu 12 mil quilos de pêssego, 30% da produção – conta Lange.
Apesar de concordarem que plantas como videiras são mais sensíveis ao 2,4-D, pesquisadores afirmam que qualquer outro herbicida pode ter provocado danos. Principalmente se tiver sido mal aplicado. Há cerca de 10 anos, estava no mercado uma formulação do 2,4-D muito volátil, atualmente não mais comercializada, conforme o agrônomo e pesquisador da Fundacep, Mario Bianchi. Essa formulação, chamada de Ester, evaporava com facilidade e atingia outras plantas. No entanto, outra formulação é vendida atualmente, não volátil.
– Existem outros herbicidas que podem ser indicados para a aplicação em áreas próximas a pomares. É preciso procurar assistência técnica para evitar uso indevido dos produtos – alerta Bianchi.
O engenheiro agrônomo e professor da Universidade de Passo Fundo Mauro Antônio Rizzardi alerta que os danos podem ser resultado da má aplicação de herbicidas.
SILVANA DE CASTRO
Como evitar o problema |
– Antes de aplicar o produto, o agricultor deve observar a presença do vento. O herbicida não deve ser aplicado com velocidade do vento acima de 10 km/h |
– Cuidar o volume de aplicação (não trabalhar com gotas muitas pequenas, pois quanto menor o tamanho da gota, mais facilmente será arrastada pelo vento) |
– Regular na máquina a altura da barra de pulverização. Trabalhar com a barra o mais próximo possível da planta (distância menor entre a saída da gota até o solo, para não dar problema de arrasto pelo vento). |
Trackbacks/Pingbacks