Pesquisa realizada a partir de parceria entre a Articulação do Semiárido e o Instituto Nacional do Semiárido avalia importância da agroecologia no combate à desertificação
O que é a pesquisa?
O combate à desertificação provocada pelo mal uso da terra e pelas mudanças climáticas na região semiárida do Brasil devem ser uma prioridade para a sociedade, pois essa região abriga mais de 23 milhões de brasileiros, sendo que 8,6 milhões residem em áreas rurais e 14,7 milhões em áreas urbanas. Parcela significativa da população vive a realidade do meio rural, uma vez que 90% dos municípios de região semiárida são pequenos, apresentando menos de 50 mil habitantes. A região semiárida possui cerca de 1,7 milhões de estabelecimentos rurais, sendo 1 milhão com tamanho inferior a 5 ha (aproximadamente cinco campos de futebol) , mas que respondem por 31% da produção agropecuária da região. O uso intensivo da terra é a principal causa da desertificação, sendo urgente a implementação de projetos e ações adequados à situação em que se encontra a região.
Para a criação de políticas de desenvolvimento mais efetivas para a região, são necessários projetos que busquem conhecer e mapear as metodologias inovadoras adotadas pela população para conviver com a seca e para obter produção agrícola sustentável nas condições climáticas do semiárido. Esse mapeamento é necessário para que ações pontuais de sucesso possam ser multiplicadas, alcançando um número cada vez maior de agricultores e propriedades rurais, propiciando melhoria da renda da população sem agredir o meio ambiente.
Com objetivo de oferecer alternativas para uma produção sustentável no semiárido, pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI), em cooperação com a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), vêm desenvolvendo estudos socioeconômicos e ecológicos em 100 propriedades rurais agroecológicas (aquelas que utilizam práticas de cultivo que não agridem o meio ambiente) de nove estados da região, para que se tenha conhecimento das estratégias agrícolas, sociais e econômicas utilizadas pelos agricultores, as quais têm possibilitado a eles resistirem e recuperarem-se dos impactos provocados pelos eventos ambientais extremos associados às mudanças climáticas.
Como é feita a pesquisa?
A pesquisa envolve a participação dos agricultores, que avaliam suas propriedades e o meio ambiente em relação às suas práticas e capacidades de adaptação e recuperação após um período de seca. Os agricultores foram selecionados com a ajuda de organizações sociais não governamentais que trabalham com agricultura sustentável, boas práticas de produção agrícola adaptadas ao clima semiárido e ações de combate à desertificação. Também têm sido identificadas as estratégias utilizadas pelas famílias de agricultores para enfrentar as situações difíceis impostas pelos eventos ambientais extremos (por exemplo, a formação de cooperativas) e manter-se produtivas na comunidade. Os pesquisadores e agricultores promovem, junto às comunidades, debates sobre as ações mais importantes que explicam a capacidade adaptativa dos agricultores e do ambiente aos eventos extremos. Os resultados são compartilhados entre as famílias de agricultores participantes do projeto por meio de reuniões, seminários e trocas de experiências.
Qual a importância da pesquisa?
Ao final do projeto, os pesquisadores esperam ter um valioso conjunto de dados sobre o desempenho e potencialidade dos sistemas de produção familiar da região, bem como avaliadas as inovações tecnológicas identificadas ao longo do estudo. Esses dados servirão como subsídio para o desenvolvimento e disseminação de práticas agrícolas mais eficientes e viáveis para a região semiárida, indicando suas vantagens e desvantagens. Além das organizações sociais, instituições de pesquisas e os órgãos de extensão rural estaduais ajudarão a repercutir os resultados, promovendo uma aplicação mais ampla deles. De forma mais abrangente, esses resultados, em conjunto com outras atividades de pesquisa que vêm sendo realizadas, contribuirão para a consolidação da cooperação entres os diversos atores sociais (comunidades de agricultores, organizações sociais, extensionistas e instituições de pesquisa).
Publicado em 17 de agosto de 2015.