leonardoboff.wordpress.com, 07/11/2015
Há uma campanha mundial e especialmente dentro da Cúria Romana de forte oposição ao Papa Francisco, especialmente ao seu modo carinhoso e informal que caracteriza seu estilo de ser Pastor da Igreja Universal e bispo de Roma. Grupos fortes dentro e fora dos quadros eclesiais que objetivam desestabilizar e até ridicularizar seu modo de ser Papa, despojado dos símbolos de poder, bem no estilo de São Francisco de Assis de quem tomou o nome.
No II Congresso de Teologia Continental, realizado em Belo Horizonte entre os dias 26-30 de outubro sob o lema A Igreja que caminha no Espírito a partir dos pobres resolveu escrever esta carta aberta em apoio ao Papa Francisco. Logo aderiram cerca de 300 pessoas do Brasil, de toda América Latina, do Caribe e de representantes da Europa, do Canadá e dos Estados Unidos.
Pedimos divulgarem esta carta e testemunharem a sua adesão para o e-mail <valecarusi@gmail.com> da embaixada argentina junto à Santa Sé.
Lboff
Carta de apoio ao Papa Francisco
Querido Papa Francisco,
Somos muitos na América Latina, no Caribe e noutras partes do mundo que acompanhamos com preocupação a oposição e os ataques que lhe fazem minorias conservadoras, mas poderosas de dentro e de fora da Igreja. Perplexos, assistimos a algo inusitado nos últimos séculos: a tomada de posição de alguns cardeais contra o seu modo de conduzir o Sínodo e, mais que tudo, a Igreja Universal.
A carta estritamente pessoal, dirigida ao Sr. foi vazada para a imprensa, como já havia sucedido com sua encíclica Laudato Si’, em clara violação dos princípios de um jornalismo ético.
Tais grupos postulam uma volta ao modelo de Igreja do passado, concebida mais como uma fortaleza fechada do que como “um hospital de campanha sempre aberto para acolher quem lhe bata às portas”; Igreja que deverá “procurar e acompanhar a humanidade de hoje não com portas fechadas, o que trairia a si mesma e a sua missão e que, em vez de ser uma ponte, se tornaria uma barreira”. Estas foram suas corajosas palavras.
As atitudes pastorais do tipo de Igreja proposto em seus discursos e em seus gestos simbólicos se caracterizam pelo amor caloroso, pelo encontro vivo entre as pessoas e com o Cristo presente entre nós, pela misericórdia sem limites, pela “revolução da ternura” e pela conversão pastoral. Esta implica que o pastor tenha “cheiro de ovelha” porque convive com ela e a acompanha ao longo de todo o percurso.
Lamentamos que tais grupos, o mais que fazem é dizer não. Recordamos a esses nossos irmãos as coisas mais óbvias da mensagem de Jesus. Ele não veio dizer não. Ao contrário, ele veio dizer sim. São Paulo na segunda Epístola aos Coríntios nos recorda que “o Filho de Deus sempre foi sim, porque todas as promessas de Deus são sim em Jesus” (2 Cor 1,20).
No evangelho de São João, Jesus afirma explicitamente: ”Se alguém vem a mim eu não o mandarei embora” (Jo 6,37). Podia ser uma prostituta, um leproso, um teólogo medroso como Nicodemos: a todos acolhia com amor e misericórdia.
A característica fundamental do Deus de Jesus, “Abba”, é sua misericórdia ilimitada (Lc 6,36) e seu amor preferencial pelos pobres, doentes e pecadores (Luc 5,32; 6,21). Mais que fundar uma nova religião com fieis piedosos, Jesus nos veio ensinar a viver e a realizar a mensagem central do Reino de Deus, cujos bens são: o amor, a compaixão, o perdão, a solidariedade, a fome e sede de justiça e a alegria de todos sentirem-se filhos e filhas amados de Deus.
Os intentos de deslegitimar seu modo de ser bispo de Roma e Papa da Igreja universal, guiando-se mais pela caridade do que pelo direito canônico, mais pela colegialidade e pela cooperação do que pelo exercício solitário do poder serão vãos, porque nada resiste à bondade e à ternura das quais o Sr. nos dá um esplêndido exemplo. Da história aprendemos que, onde prevalece o poder, desaparece o amor e se extingue a misericórdia, valores centrais da sua pregação e da de Jesus.
Neste contexto, face à nova fase planetária da história e às ameaças que pesam sobre o sistema-vida e o sistema-Terra corajosamente apontadas em sua encíclica Laudato Si’sobre “o cuidado da Casa Comum” queremos cerrar fileiras ao seu redor e mostrar nosso inteiro apoio à sua pessoa e ministério, à sua visão pastoral e aberta de Igreja e à forma carismática pela qual nos faz sentir novamente a Igreja como um lar espiritual. E são tantos de outras igrejas e religiões e do mundo secular que o apoiam e o admiram pelo seu modo de falar e de agir.
Não é destituído de significação o fato de que a maioria dos católicos vive nas Américas, na África e na Ásia, onde se constata grande vitalidade e criatividade em diálogo com as diferentes culturas, mostrando vários rostos da mesma Igreja de Cristo. A Igreja Católica é hoje uma Igreja do Terceiro Mundo, pois somente 25% dos católicos vivem na Europa. O futuro da Igreja se decide nessas regiões onde sopra fortemente o Espírito.
A Igreja Católica, não pode ficar refém da cultura ocidental que é uma cultura regional, por maiores méritos que tenha acumulado. É preciso que se des-ocidentalize, abrindo-se ao processo de mundialização que favorece o encontro das culturas e dos caminhos espirituais.
Querido Papa Francisco: o Sr. participa do mesmo destino do Mestre e dos Apóstolos que também foram incompreendidos, caluniados e perseguidos.
Mas estamos tranquilos porque sabemos que o Sr. assume tais tribulações no espírito das bem-aventuranças. Suporta-as com humildade. Pede perdão pelos pecados da Igreja e segue as pegadas do Nazareno.
Queremos estar ao seu lado, apoiá-lo em sua visão evangélica e libertadora de Igreja, conferir-lhe coragem e força interior para nos atualizar, por palavras e gestos, a Tradição de Jesus feita de amor, de misericórdia, de compaixão, de intimidade com Deus e de solidariedade para com a humanidade sofredora.
Enfim, querido Papa Francisco, continue a mostrar a todos que o evangelho é uma proposta boa para toda a humanidade, que a mensagem cristã é um força inspiradora no “cuidado da Casa Comum” e geradora de uma pequena antecipação de uma Terra reconciliada consigo mesma, com todos os seres humanos, com a natureza e principalmente com o Pai que mostrou ter características de Mãe de infinita bondade e ternura. Ao final, poderemos juntos dizer: “tudo é muito bom”(Gn 1,31).