Da esquerda para direita (sentados): Emanoel Dias, Erivan Farias, Marcelânia Machado e Maria da Penha Batista. Em pé: Cleibson Santos e Dulce Alves

 

Embrapa, 02/06/2016

Objetivo foi conhecer as formas de conservação de plantas e técnicas de produção de mudas.

Três agricultores familiares do Polo da Borborema, que abrange 15 municípios no estado da Paraíba, acompanhados de dois técnicos da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, visitaram a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a Embrapa Cerrados, duas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) localizadas no Distrito Federal, nos dias 31 de maio e 01 de junho de 2016, com o objetivo de conhecer a experiência da Empresa na conservação e produção de sementes.

A visita foi um dos resultados da participação da Embrapa no Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), lançado pelo governo federal, em 2013, para regulamentar o acesso de agricultores organizados aos recursos genéticos conservados nos mais de 100 bancos mantidos pela Empresa em vários estados da Federação.

O Polo da Borborema faz parte do Programa de Desenvolvimento Local do Agreste da Paraíba, conduzido pela AS-PTA, que abrange uma rede de 15 sindicatos de trabalhadores rurais (STRs), aproximadamente 150 associações comunitárias e uma organização regional de agricultores ecológicos. Ao todo, mais de cinco mil famílias agricultoras são atendidas pelo Programa.

Conservação de sementes será feita a partir de intercâmbio entre a Embrapa e os agricultores

Na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, os agricultores foram recebidos pelas pesquisadoras Dulce Alves, Antonieta Salomão e Terezinha Dias e visitaram os laboratórios de sementes e a Coleção de Base (Colbase), na qual as sementes são conservadas a longo prazo a 20ºC abaixo de zero. O objetivo, como explicaram os técnicos da AS-PTA, Cleibson Santos e Emanoel Dias, foi conhecer melhor as técnicas de conservação de sementes em seus locais de origem (in situ) e fora de seus habitats (ex situ), nos bancos ativos, onde as espécies são manipuladas, e na Colbase, que funciona como uma espécie de backup das coleções mantidas no campo.

Segundo a pesquisadora Dulce Alves, além de promover a aproximação dos agricultores aos bancos genéticos, que foi uma solicitação decorrente do PLANAPO, houve também avanço na discussão da possibilidade de armazenar os recursos genéticos cultivados por eles no Polo da Borborema no Banco da Embrapa, em Brasília. A primeira coleção a ser incorporada à Coleção de Base deverá ser a de sementes de milho. “Mas, como essa iniciativa é pioneira na Empresa, a equipe de Transferência de Tecnologia da Unidade está trabalhando na construção de um modelo de Acordo de Transferência de Material”, afirmou

Trata-se de uma ação paralela ao PLANAPO com o intuito de colaborar para a conservação da diversidade genética. “O acesso aos bancos genéticos não implica apenas doar, mas também receber material Os nossos bancos precisam ser retroalimentados”, explica a pesquisadora, lembrando que o armazenamento das sementes cultivadas por eles é também uma forma de evitar a erosão genética. Segundo o técnico da AS-PTA, Emanoel Dias, existem hoje 62 casas de sementes no Polo da Borborema. “O depósito de sementes nas câmaras frias da Embrapa será uma cópia de segurança para os agricultores. O primeiro material a ser enviado será o de milho, mas futuramente pretendemos estimular o encaminhamento de outras espécies de importância socioeconômica para a região, como a fava, por exemplo”, complementou.

Técnicas de germinação aprendidas na Embrapa serão multiplicadas em Borborema

Outro objetivo da visita à Embrapa foi aprender técnicas de germinação e produção de mudas de espécies     nativas florestais e frutíferas com a pesquisadora Antonieta Salomão, que é especialista na germinação de plantas nativas. Muitos dos agricultores do Polo, cerca de 40 jovens e nove adultos, são viveiristas e vivem da produção e comercialização de espécies florestais e medicinais, como nim, aroeira, angico, sabiá, entre outras, e frutíferas, como pinha, graviola, caju, goiaba e acerola.

Segundo uma das agricultoras presentes à visita, Maria da Penha Batista, do município de Solânea, as técnicas ensinadas pela pesquisadora serão muito úteis para a sua produção local. Ela explica que Antonieta ensinou o passo a passo da germinação, além de técnicas que permitem uniformizar a produção.

“Ela nos explicou que é importante selecionar as sementes desde a coleta, pela cor e o formato, por exemplo, entre outras técnicas que permitem uniformizar a germinação. Isso vai ser muito bom para nós, pois a germinação padronizada garante maior produtividade na hora da colheita, além de plantas de melhor qualidade”, comemorou Maria da Penha.

A visita à Embrapa Cerrados também foi muito produtiva na opinião de Maria da Penha e dos outros dois agricultores presentes à visita: Marcelânia Machado (Queimadas) e Erivan Farias (Lagoa Seca). Lá eles aprenderam a quebrar dormência, montar estufa para germinação e usar tubetes para a produção de mudas nativas. Além de visitar o banco ativo de maracujá, eles ganharam sementes de maracujá pérola do Cerrado, Cambuci (fruta semelhante à goiaba) e de outras espécies frutíferas (incluindo uma nativa da Colômbia) e florestais.

Após a visita, eles pretendem multiplicar os ensinamentos aprendidos na Embrapa para os outros agricultores do Polo. Os três fazem parte da Rede de Coletores de Sementes, que abrange aproximadamente 60 pessoas.

Segundo Emanoel, a AS-PTA atende agricultores familiares em praticamente todo o território nacional. Como é impossível manter uma quantidade de funcionários à altura desse objetivo, uma das estratégias da ONG é fortalecer o estabelecimento de redes organizadas por áreas temáticas: recursos hídricos, agrobiodiversidade, criação animal, saúde e alimentação, cultivos ecológicos e comercialização.

Próxima visita terá como foco a coleta de espécie nativas

Os agricultores ficaram tão animados com a visita à Embrapa, que já estão planejando outra em breve. Da próxima vez, eles querem se reunir com os especialistas em coleta de recursos genéticos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia para aprender técnicas utilizadas na coleta de espécies nativas.

A visita ainda não tem previsão de data, mas segundo eles, a “semente já está plantada, agora é trabalhar para que germine e possamos voltar, quem sabe com outros agricultores do Polo da Borborema”, finalizaram.

Fernanda Diniz (DRT/DF 4685/89)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Telefone: 61 3448-4768

Foto: Claudio Bezerra

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