milhocriouloOs sistemas agroecológicos são mais adaptados do que os sistemas convencionais aos efeitos causados pela mudança do clima. Essa conclusão faz parte de estudo de campo da AS-PTA e organizações parceiras na região do Planalto Norte de Santa Catarina. A superioridade dos sistemas agroecológicos também evidencia o anacronismo representado pela continuidade dos incentivos governamentais à modernização da agricultura familiar com base nos padrões tecnológicos da Revolução Verde.

O estudo comparou o desempenho de lavouras de milho ecológico e convencional na região durante a safra 2008-09. Apenas no mês de outubro, início do plantio, choveu 25% da total médio anual para a localidade. O grande volume de água que caiu em pouco tempo fez com que muitos agricultores tivessem que replantar suas lavouras. Na sequencia, a região passou por estiagem que se prolongou até o final de dezembro.

desempenho econômico de lavouras convencionais e agroecológicas

desempenho econômico de lavouras convencionais e agroecológicas

Essa manifestação das mudanças climáticas (fortes chuvas seguidas de períodos de seca) amplia os riscos da produção agrícola.

A prefeitura de Irineópolis informou que a quebra da safra de milho no município foi da ordem de 50%.

Na média, os produtores convencionais obtiveram 4,5 toneladas de milho por hectare, com custo de R$ 2 mil/ha. Considerando o valor de uma saca de milho a R$ 17, os produtores convencionais tiveram prejuízos médios de R$ 762/ha. Ou seja, para produzir 4,5 toneladas de milho, gastaram o equivalente a 7 toneladas de milho.

A perda dos sistemas em transição agroecológica ficou em torno dos 20%. Usando sementes de milho crioulo e aplicando ao solo matéria orgânica e pós-de-rocha, esses produtores obtiveram produtividade média de 4,2 ton/ha, com custo médio de R$ 200/ha. Isto é, gastaram o equivalente a 744 quilos de milho para produzir 4,2 toneladas, obtendo receita líquida de R$ 980/ha ante o prejuízo de R$762 dos convencionais.

A experiência ainda mostra que mesmo no curto prazo, isto é, em estágios iniciais de transição agroecológica, os produtores de grãos podem adquirir condições muito superiores para lidar com os riscos econômicos associados às mudanças climáticas. Além disso, com o avanço da transição agroecológica, os riscos ambientais e econômicos tenderão a diminuir como consequência do aumento da diversidade biológica nos agroecossistemas.

Os dados ainda servem para derrubar a crença de que os sistemas agroecológicos são menos produtivos e que os períodos de transição geram prejuízos ao produtor.

Nada de promessas mirabolantes, publicidade, genes supostamente tolerantes a seca, patentes e royalties. O caminho para a agricultura se adaptar ao contexto das mudanças climáticas passa por tecnologias seguras, de baixo custo e de elevada apropriação social. Mas para deixar de ser local e se disseminar pelo país, experiências como essas dependem da reorientação das política públicas.
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A íntegra de artigo “Lidando com extremos climáticos: análise comparativa entre lavouras convencionais e em transição ecológica no Planalto Norte de Santa Catarina” foi publicada na revista Agriculturas: experências em agroecologia.

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Fonte: Boletim Por um Brasil Livre de Transgênicos 439