Entidades de defesa dos povos indígenas do Equador estão denunciando a crescente escalada de violência contra a etnia shuar, da província amazônica de Morona Santiago.
Ação de despejo em agosto. Foto de Raúl Ankuash.
A comunidade de Nankints, onde tradicionalmente vivem os shuar, está dentro de uma enorme área que foi cedida pelo governo, por um período de 25 anos, para uma empresa chinesa de mineração realizar estudos de prospecção e extração de cobre.
Sob essa justificativa, no dia 11 de agosto passado, forças do exército e da polícia invadiram violentamente a comunidade, dando cinco minutos para que os moradores abandonassem suas casas, que foram em seguida demolidas. “Éramos oito famílias, em um total de 32 pessoas, das quais 12 crianças. Nos expulsaram, tiraram nossas casas, nossas terras. Hoje, não temos nem o que comer. Não nos indenizaram. Nem vieram conversar conosco”, relatou, em entrevista a um jornal local, Luis Tiwiram, dirigente da Federação Shuar. Ele ressaltou também que a Constituição dá amparo legal à reivindicação de propriedade ancestral dessas terras, onde viviam várias gerações de indígenas, motivo pelo qual resistiram durante dez anos a abandoná-las. “Nas nossas terras, tínhamos cultivos de mandioca, banana, guineo, e pescávamos; agora, não temos nada”, denunciou.
Luis Tiwiram, dirigente da etnia shuar: “Nos expulsaram das nossas terras. Agora não temos nada”
No mesmo mês, Luis Tiwiram se reuniu com o representante das Nações Unidas (ONU) no Equador, Diego Zorrilla, para pedir que este levasse ao conhecimento do relator especial sobre os Direitos dos Povos Indígenas de ONU a expulsão das oito famílias shuar.
Violação dos direitos constitucionais
A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) lembrou que “o projeto está localizado sobre um território ancestral shuar, mas nunca consultaram seus integrantes, violando seus direitos constitucionais”.
Ainda segundo a Conaie, no 21 de novembro, os shuar voltaram a ocupar a área de Nankints, onde se realizaria a construção do acampamento do projeto de mineração. Nos dias seguintes, os indígenas foram atacados, por terra e ar, por mais de 1.000 efetivos militares e policiais. Como resultado do confronto, “várias pessoas ficaram feridas, indígenas shuar foram presos e não se conhece o paradeiro de alguns deles”, denunciou a organização indígena.
Os dirigentes indígenas Severino Sharupi, Jorge Herrera e Katy Betancourt entregaram uma carta no Ministério de Defesa, pedindo o fim da repressão na zona. Foto: Expreso
Para a organização equatoriana Acción Ecológica, “a zona em conflito é, majoritariamente, um território do povo shuar. Nesse espaço se impôs um projeto de mineração, no qual se planejam abrir duas minas a céu aberto, que contaminarão o território com enormes quantidades de produtos tóxicos, e utilizarão milhões de litros de água, afetando os rios e outras fontes de água. Quando terminarem a exploração, restarão duas crateras e irreversíveis impactos ambientais, sociais e culturais”, afirmou.
A organização ecologista acrescentou que “há total ausência de consulta e predisposição do governo a escutar as demandas das pessoas afetadas. A população está submetida a contínuos processos de criminalização, agressão e hostilização. Continuam impunes os três assassinatos de indígenas shuar cometidos na zona. No último ano, houve contínuas ações de expulsão e retirada forçada para entregar os territórios a empresas de mineração chinesas”. A organização destaca ainda “a inoperância e inclusive a conivência do Estado equatoriano nas agressões sofridas”.
Conhecida a nível nacional e internacional pela sua defesa dos direitos coletivos dos povos e os direitos da natureza, a organização ambiental equatoriana Acción Ecológica está agora, segundo denúncias, sob ameaça de fechar as portas, devido a pressões do governo e da transnacional chinesa e por seu apoio ao povo shuar.
Território sob tensão e violência
O estado de tensão e confronto continua na área, com desdobramentos imprevisíveis. No dia 14 de dezembro passado, houve um ataque às instalações da empresa mineradora chinesa, no qual morreu um policial.
O governo tem responsabilizado as comunidades indígenas pela violência. O informativo oficial El Ciudadano afirmou que “o presidente Rafael Correa fez um apelo no sentido de se rejeitar atos de extrema violência”. Segundo o periódico, o que aconteceu foram “atos de violência em Nankints, na província de Morona Santiago, contra os policiais que executavam a retirada de cidadãos que haviam tomado pela força as instalações do projeto mineiro de Ecuacorriente”. Tanto o Ministério da Defesa, quanto o de Interior têm insistido que a expulsão foi feita de acordo com ordens judiciais, já que a zona foi concedida à empresa chinesa. O governo de Pequim não se pronunciou sobre o caso.
-com informações de:
http://lahistoria.ec/2016/10/12/desalojo-de-comunidad-shuar/
https://twitter.com/PepeAcacho/status/763777888084787200