Há um mês, agricultores do Assentamento Cícero Romana I, em Esperança, município do Agreste paraibano, têm se revezado em ações de reflorestamento e cercamento dos aproximadamente 60 hectares da reserva legal da comunidade. Nesta quarta-feira (14), cerca de 30 assentados participaram do plantio de 200 mudas de mais de 15 espécies de árvores na área, que já se encontrava degradada quando o assentamento foi criado, em 2005, e que vinha sendo utilizada como área de pasto por agricultores vizinhos após o início da grande seca que atinge a região há pelo menos cinco anos.
A atividade foi acompanhada por técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater/PB) e da Associação dos Pequenos Produtores de Timbaúba e Araras (APPTA), que forneceu as 200 mudas plantadas na ocasião.
De acordo com a presidente da associação dos moradores do assentamento, Jandira Pereira da Silva, foram plantadas até agora 500 mudas, todas oriundas de doações. “Uma vez por semana, geralmente às segundas-feiras pela manhã, um grupo de pelo menos 20 assentados trabalha no plantio das mudas e na construção de uma cerca para impedir a entrada de gado na área da reserva”, disse.
A ideia é recuperar e proteger a reserva legal do assentamento através da conscientização ecológica de assentados e vizinhos, transformando o local, onde atualmente predominam espécies rasteiras, em uma área capaz de abrigar a diversidade de fauna e da flora características da região, onde predomina a mata úmida de altitude e a mata subcaducifólia – vegetação também conhecida como “mata seca”, segundo a Agência Embrapa de Informação Tecnológica (Ageitec).
A recuperação ambiental do local foi iniciada com a realização de palestras sobre a importância das áreas de reserva legal promovidas pela Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), que doou as primeiras 300 mudas de árvores à comunidade.
Entre as espécies que estão sendo plantadas na área de reserva legal do Assentamento Cícero Romana I estão: ipê amarelo, ipê rosa, barriguda, cedro, cajueiro, pinho, nim, leucena, cumaru, ubiratã, chichá, aroeira, sabiá, mulungu e algaroba.
Dona Jandira explicou que o cercamento do perímetro da reserva legal está sendo realizado com o aproveitamento de troncos secos e com arame farpado comprado pelos próprios assentados. Em algumas partes, os agricultores optaram por utilizar cercas vivas com o plantio de mudas de mulungu e de algaroba. “Já cercamos 50% da reserva”, disse.
O trabalho de recuperação da reserva legal do assentamento foi bem-recebido por agricultores assentados na área e pelos pequenos proprietários de imóveis rurais vizinhos. Cada vizinho foi convidado a assinar um termo de compromisso assumindo a responsabilidade de exercer o papel de “guardião” da reserva do assentamento, contribuindo inclusive na manutenção do cercamento da área e nas ações de reflorestamento.
Para o assentado Petrônio Diniz, 63 anos, a ação do homem também contribui para a seca e para o empobrecimento do solo. “O que estamos passando não é culpa de Deus, é do desmatamento e da falta de cuidado com a natureza”, afirmou, acrescentando que os assentados precisam cuidar bem de sua maior conquista, a terra para produzir.
“Minha família sempre foi humilde, nunca teve nada na vida. Mas, depois de assentados, nossa vida mudou 90%. Hoje, eu consegui dar uma situação melhor à minha família. A gente se alimenta muito melhor. Antes, o lucro ia todo para o patrão”, concluiu o agricultor familiar.
Os jovens da comunidade também estão se mobilizando para recuperar a vegetação do assentamento, como é o caso de Marcelo Henrique Nunes, 18 anos, e Pedro Flor, 21 anos, que estão cercando as margens do rio que corta Cícero Romana I e estão se preparando para iniciar o plantio de espécies frutíferas no local.
Pronaf e produção de mudas
O gerente do Escritório da Emater/PB de Esperança, o extensionista rural Gilvan Salviano de Araújo, que esteve presente na atividade desta quarta-feira (14), afirmou que o órgão vai iniciar, em breve, visitas a todas as famílias do Assentamento Cícero Romana I para elaborar projetos para o acesso aos recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Os projetos, segundo Araújo, deverão ser voltados prioritariamente para o atendimento das necessidades básicas de infraestrutura hídrica dos agricultores, como a construção de barreiros e de cisternas e a aquisição de motores, de forma a dotar as famílias de condições de produção mesmo em épocas de estiagem.
“Queremos criar condições e dotar o assentamento de infraestrutura para que os assentados possam produzir hortaliças e criar aves e suínos, por exemplo, para fornecer para o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento]”, disse.
A Emater/PB se comprometeu ainda a elaborar um projeto para o treinamento de agricultores do assentamento para a produção e a construção de um viveiro de mudas com o apoio da APPTA.
Araújo afirmou que é preciso investir em atividades que permitam ao agricultor familiar produzir sem depender das chuvas, garantindo renda nos períodos de seca.
O Assentamento Cícero Romana I, localizado a cerca de 147 quilômetros de João Pessoa, possui área de aproximadamente 296 hectares, onde 54 famílias vivem e produzem principalmente feijão, milho, batata doce, batata inglesa, fava, macaxeira e hortaliças, além de frutas como limão e laranja.
A produção excedente é vendida principalmente em uma feira agroecológica realizada às sextas-feiras pela manhã em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperança.
Reserva legal é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, que não seja a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.
Ela varia de acordo com o bioma e o tamanho da propriedade e pode ser de 80% da propriedade rural localizada na Amazônia Legal, 35% da propriedade rural localizada no bioma cerrado dentro dos estados que compõem a Amazônia Legal, e de 20% nas propriedades rurais localizadas nas demais regiões do país.