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CARTA POLÍTICA

Nos dias 25 e 26 de agosto de 2009, representantes de 80 organizações de agricultores, movimentos sociais, ONGs e de entidades de defesa dos consumidores de todo o País reuniram-se na cidade de Curitiba para debater a atual situação dos transgênicos e seus impactos sobre a biodiversidade, a saúde pública e os direitos de agricultores e consumidores.

Após dois dias de palestras, debates, trabalhos em grupo e trocas de experiências chegamos aos seguintes entendimentos:

1 – As respostas às crises dos alimentos, do clima, energética e financeira não serão dadas pela via do mercado, mas sim pela construção de um novo paradigma onde o uso racional dos recursos naturais passa a ter centralidade no futuro da civilização. Nesse sentido, compreendemos que é a agricultura familiar camponesa de base ecológica aquela que tem condições de dar respostas consistentes e sustentáveis aos dilemas civilizatórios. O modelo da agricultura industrial que faz uso de sementes transgênicas e insumos químicos somente aprofundará essas crises.

2 – Denunciamos o modelo falido da agricultura transgênica, dependente de energia fóssil, emissora de gases de efeito estufa e que não produz mais, aumenta o uso de venenos, aumenta os custos de produção e torna a agricultura nacional e os agricultores totalmente dependentes de poucas empresas transnacionais como Monsanto, Syngenta, Bayer, Dow e DuPont. Não aceitamos que os agricultores que não queiram plantar transgênicos devam arcar com o ônus de proteger suas lavouras da contaminação genética.

3 – Denunciamos o escândalo que é a Comissão Técnica Nacional de Biosegurança – CTNBio, um dos principais órgãos encarregados de cuidar da biossegurança da população – cujos resultados têm sido a aprovação irresponsável e açodada de invenções das transnacionais de biotecnologia. Por razões inexplicáveis, vários ministérios vêm retardando a indicação de seus representantes e a adoção dos procedimentos legais necessários para que a sociedade civil indique os seus representantes para a CTNBio. Na ausência dessas pessoas, decisões importantes vêm sendo tomadas pela Comissão sem que as diferentes dimensões dos riscos associados aos organismos transgênicos sejam criteriosamente analisadas. Além disso, destacamos o caráter anti-científico da CTNBio, já que suas decisões são tomadas por maioria simples e com base no voto, em uma clara desconsideração ao princípio da precaução que deve fundamentar as análises de riscos ambientais e à saúde pública.

4 – Denunciamos o atual governo federal pelo fato de o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS estar se eximindo de sua responsabilidade legal e moral de dar respostas à sociedade ao problema da contaminação genética e seus impactos sociais e econômicos.

Denunciamos em particular o Ministério da Agricultura por não fiscalizar as lavouras transgênicas e por não adotar as medidas necessárias para a segregação da cadeia produtiva de grãos no País.

Rechaçamos os programas e órgãos públicos que vêm usando a estrutura do Estado para promover o uso do milho transgênico.

Face a esse contexto, reivindicamos:

1 – A suspensão imediata do cultivo e da comercialização do milho transgênico e que a CTNBio se abstenha de aprovar qualquer outra variedade de milho geneticamente modificado;

2 – Que o Ministério do Meio Ambiente crie áreas livres de transgênicos e reservas da agrobiodiversidade;

3 – Que o Ministério do Meio Ambiente fiscalize o plantio de transgênicos no entorno das Unidades de Conservação e apóie a formulação de planos de manejo que proíbam o plantio de milhos transgênicos em suas zonas de amortecimento;

4 – A adoção das medidas pelos órgãos competentes federais (MAPA, ANVISA e Min. Justiça), estaduais e municipais que garantam a plena rotulagem com base no Código de Defesa do Consumidor e na rastreabilidade de toda a cadeia produtiva;

5 – Que todas as vagas da CTNBio sejam imediatamente preenchidas por procedimentos legítimos por parte dos ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário, da Justiça e do Trabalho;

6 – Que o Ministério da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente financiem estudos independentes de médio e longo prazo sobre os efeitos dos organismos transgênicos à saúde humana e ao meio ambiente, inclusive considerando o uso associado de agrotóxicos;

7 – Que seja efetivado e ampliado o Programa Nacional de Agrobiodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, iniciativa integrante do Plano Plurianual e que prevê ações articuladas de diferentes ministérios em articulação com a sociedade civil;

8 – Que os convênios do Ministério do Desenvolvimento Agrário com a Embrapa sejam destinados exclusivamente para a pesquisa voltada para a agricultura familiar agroecológica;

9 – Que o Ministério do Desenvolvimento Agrário retome o grupo de trabalho sobre agrobiodiversidade;

10 – Que a Anvisa passe a monitorar os resíduos do ácido AMPA (principal metabólito do herbicida Roundup) associados aos de glifosato nos grãos de soja transgênica;

11 – Que o estado do Paraná dê prosseguimento ao programa de monitoramento da contaminação do milho e ao mesmo tempo promova ações de apoio às organizações de agricultores na conservação e uso da agrobiodiversidade;

12 – O financiamento público para a promoção da transição agroecológica da agricultura brasileira; e

13 – Que a Embrapa e demais instituições públicas de pesquisa agropecuária garantam a oferta de sementes convencionais e promovam o uso de sementes crioulas e de variedades de polinização aberta.

Por fim, a plenária final do Seminário adotou o dia 21 de outubro como dia de celebração da luta pela vida e contra os transgênicos, em memória ao companheiro Keno, assassinado por seguranças de empresa contratada pela Syngenta Seeds em 2007, em Santa Tereza do Oeste (PR).

 

POR UM BRASIL ECOLÓGICO LIVRE DE TRANSGÊNICOS E DE AGROTÓXICOS!

Curitiba, 26 de agosto de 2009.

AACC-RN – Associação de Apoio às Comunidades do Campo
AAFEMED – Associação dos Agricultores Familiares e Ecológicos de Medianeira
AAO – Associação de Agricultura Orgânica
ABCCON – Associação Brasileira da Cidadania e do Consumidor do Mato Grosso do Sul
ABD – Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica
ABEEF – Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal
ADITAL – Notícias da América Latina e Caribe
ADOCON – Associação de Donas de Casa e Consumidores de Tubarão – SC
ANA – Articulação Nacional da Agroecologia
ANPA – Associação Nacional dos Pequenos Agricultores
AOPA- Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia
ARCAPA – Associação Catarinense de Pequenos Agricultores
AS-PTA Agricultura familiar e Agroecologia
ASA – Articulação do Semi-Árido Brasileiro
ASSESOAR
BIOLABORE
CAA – NM – Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
Cáritas – CE
Centro Nordestino de Plantas Medicinais
Centro Vianei de Educação Popular
Consea – PE Conselho Nacional de Segurança Alimentar
Contag – Confederação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar
COPPABASC – Cooperativa de Pequenos Produtores Agricultores dos Bancos Comunitários de Sementes
CPT – PB – Comissão Pastoral da Terra
Cresol Verê – Cooperativa de Crédito Solidário
CTA – MT – Centro de Tecnologias Alternativas
Diaconia – PE
Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria
FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil
Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – FETRAF-SUL/CUT
FNEDC – Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor
Fundação Heinrich Böll
GIAS – Grupo de Intercâmbio de Agricultura Sustentável do Mato Grosso
Greenpeace Brasil
Ícones – Instituto Para o Consumo Educativo Sustentável – Pará
IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
INGÁ Estudos Ambientais – RS
Instituto Giramundo Mutuando – Botucatu – SP
MMC – Movimento de Mulheres Camponesas
MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores
MST – Movimento dos Trabalhadors Rurais sem Terra
Pulsar Brasil – Agência Informativa de Rádios Comunitárias
Rede de Sementes do Semi-Árido
Rede Ecovida de Agroecologia
REDES – Amigos de la Tierra Uruguai
Sindicato da Agricultura Familiar de Anchieta – SC
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmeira – PR
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha – MG
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Mateus do Sul – PR
Terra de Direitos
UNAIC – União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu – RS
Via Campesina Brasil

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