Na Festa de Nossa Senhora do Rosário, importante manifestação da cultura popular afro-brasileira, tradicionalmente acontece a coroação do Rei e da Rainha Congo. Esta celebração tem origem ainda no período da escravidão no Brasil, quando os negros se organizavam em irmandades (Irmandades de Homens Negros) e elegiam um representante: o “Rei negro”, que seria o responsável por representar os interesses do grupo.
Foi a partir desta herança cultural que surgiu a Banda de Congo José Lúcio Rocha, na comunidade Córrego do Meio – no distrito de Airões, município de Paula Cândido (MG). Em 2014 esta comunidade conquistou o reconhecimento de “Comunidade Remanescente Quilombola” (CRQ) da Fundação Palmares e, de acordo com relatos dos próprios “congos”, a Banda de Congo José Lucio Rocha (que existe e resiste há mais de 135 anos) teve papel fundamental no processo de auto reconhecimento por parte da comunidade como também neste reconhecimento oficial do governo.
Pela sua importância histórica na cultura popular da Zona da Mata mineira e pelo fato de ser uma manifestação que carrega a tradição e os símbolos ancestrais (enquanto tenta não se perder na cultura moderna), o “Congado de Airões”, como é popularmente conhecido, representa um importante campo para as pesquisas antropológicas. No caso da Antropologia Visual, se torna ainda mais importante quando avaliamos que palavras não são suficientes para descrever a aridez do cenário de Airões; a figura emblemática de “Mestre Boi”; ou mesmo as espadas, fitas, cetins e lantejoulas dos figurinos desta manifestação cultural.
“Soldados de Maria” é um filme etnográfico que retrata a Festa de Nossa Senhora do Rosário e a Banda de Congo José Lúcio Rocha. O filme foi realizado coletivamente por um grupo de estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), com a coordenação do professor Marcelo Oliveira, do Departamento de Ciências Sociais da UFV, junto com Baltazar Oliveira. A comunicadora do CTA, Wanessa Marinho, também integra o coletivo de realizadores do filme.
–