Bem vindo/as a mais uma edição do nosso Boletim! Neste mês, um salve especial à alimentação saudável, que combina sementes crioulas, Agroecologia e o trabalho dos povos do campo, das florestas, das águas e das cidades. Do cenário nacional ao internacional, comida de verdade é o mote! Nossa matéria especial vai por aí também. A partir de conversas potiguares, com Alexandre Lima, Secretário Estadual de Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte (SEDRAF RN) e Ivi Dantas, agrônoma integrante do Centro Feminista 8 de Março (CF8), contaremos sobre a experiência de comercialização de sementes crioulas por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A experiência associa participação popular e políticas públicas e nos traz um tanto de bons ensinamentos e inspirações. Ao mesmo tempo, acende um grave alerta sobre a contaminação das variedades crioulas por transgênicos e sobre os riscos e impactos da erosão genética desse patrimônio biológico e cultural.

 

“Estamos plantando as sementes das sementes crioulas”

Qual a escala dos danos causados pela liberação desenfreada dos transgênicos no país? As empresas alegam que as sementes transgênicas são tão seguras quanto as convencionais. Os órgãos reguladores limitam-se a confirmar esse ponto de vista, transmitindo para a sociedade uma suposta sensação de segurança. O fato é que a contaminação das variedades crioulas de milho cresce a cada dia, irradiando impactos negativos sobre a vida e a história dos guardiões que preservam essas sementes e de suas comunidades, afetando o princípio da partilha, que anima feiras e festas de sementes por todo o país. A contaminação das sementes crioulas ameaça também o ciclo da produção e do consumo de alimentos saudáveis, chegando mesmo a bloquear a execução de políticas públicas estaduais e federais voltadas para a agricultura e a alimentação. Segundo relatório da Embrapa, a área estimada para a próxima safra de milho no país é de 16 milhões de hectares, 93% dos quais deverão ser semeados com cultivares transgênicas. Essa nova safra pode representar um novo ciclo de ameaças ao patrimônio genético e alimentar, caso a omissão prevaleça nas instâncias governamentais, o Ministério Público não intervenha urgentemente e as empresas do agronegócio continuem ditando a regra.

Para entender como ocorreu a contaminação do milho crioulo no estado e também para debater as potencialidades dos programas públicos de compra de sementes crioulas para o fortalecimento da agricultura familiar e a promoção da segurança alimentar, conversamos com Ivi Dantas, agrônoma do Centro Feminista 8 de Março (CF8), e com Alexandre Lima, secretário de Agricultura Familiar do estado do Rio Grande do Norte (Sedraf). Confira como foi essa conversa realizada por telefone.

  

Sementes crioulas na mídia

OMS recomenda: alimentação saudável em tempos de pandemia (e sempre!)

A mensagem mais forte da pandemia seria para uma atenção redobrada à íntima e delicada relação entre as pessoas e a natureza? É o que indicam as prescrições da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre saúde e “recuperação verde”. Além das discussões sobre o acesso desigual aos bens naturais, como a água, e sobre a necessidade de proteção da natureza, o documento coloca na ordem do dia a promoção da saúde por meio de urgentes transições no sistema alimentar.

Ainda sobre comida de verdade

Em entrevista à rádio Brasil de Fato, o professor e ex-diretor da Conab, Sílvio Porto, fala sobre o Projeto de Lei 886/2020, que deverá beneficiar milhares de famílias do campo e das cidades. A proposta objetiva fortalecer a agricultura familiar, por meio de créditos adequados à produção e o estabelecimento de um Programa de Aquisição de Alimentos Emergencial (PAA-E) para comercialização em tempos de pandemia, garantindo, assim, renda às agricultoras e agricultores familiares e comida a quem precisa.

Em tempo: o projeto substitutivo, elaborado pelo deputado mineiro Zé Silva, reduziu em muito os valores propostos para o PAA-Emergencial e para fomento e ainda deixou de fora reivindicações centrais dos agricultores, como o apoio à construção de cisternas e a compra de sementes e mudas da agricultura familiar. As negociações seguem intensas e a expectativa é que o texto seja votado muito brevemente.

Mesmo num cenário tão desafiador…

Há muita gente fazendo acontecer! No município de Mariporã (SP) foi instituída, por meio da aprovação de Projeto de Lei Municipal, a Zona Livre de Agrotóxicos, envolvendo a produção agrícola, pecuária, extrativista e as práticas de manejo dos recursos naturais. O nome da lei, não poderia ser mais simbólico: Lei Ana Primavesi.

Para preservar a vida, fiquemos em casa!

Esse é o recado da Rede de Sementes da Agroecologia – ReSA para você. Mais de 30 encontros e feiras de sementes crioulas previstos para 2020 foram adiados como medida de prevenção à Covid-19 e para “que possamos nos reinventar e as sementes sigam suas rotas pelas mãos e terras férteis cuidadas por tantas famílias agricultoras”.

Missiones na Argentina: sim para a agroecologia e não para a Syngenta

Agricultores/as, povos indígenas, camponeses/as e diferentes organizações da sociedade civil se juntam para dizer não a um possível convênio entre o governo da província de Missiones e a multinacional Syngenta. O acordo seria um estímulo ao cultivo de variedades transgênicas e dependentes de agrotóxicos, estratégia completamente na contramão da defesa do território efetuada pelas populações camponesas e tradicionais que buscam cuidar da terra, das sementes crioulas, dos bens comuns e transformar o modelo agroindustrial em um modelo agroecológico, que produz alimentos saudáveis e vida digna.

  

Recomendamos:

 

Conhecer o material da campanha “Não planto transgênicos para Não apagar minha história” produzida pela AS-PTA na Paraíba para evitar processos de contaminação das sementes crioulas de milho.
https://www.youtube.com/watch?v=6Kad7X-WMWg

Conhecer histórias de guardiãs e guardiões de sementes crioulas e dialogar sobre relações entre campo, cidade e comida de verdade com a Campanha de valorização das sementes crioulas da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA)

Em defesa dos direitos dos agricultores e consumidores: a resistência contra a contaminação genética das sementes crioulas. Live da série especial Direitos Humanos em Foco, promovida pela Terra de Direitos.

Boletim da Articulação de Agroecologia da Rio de Janeiro (AARJ), que conta a história de Dona Chica, a conquista pela terra e o cuidado com as sementes crioulas.

Buscar exemplos inspiradores na experiência da Rede de Solidariedade do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), que busca fortalecer, com saúde e alimento na mesa, os territórios das comunidades tradicionais de Angra dos Reis (RJ), Paraty (RJ) e Ubatuba (SP).

  

EXPEDIENTE

Sementes Crioulas é uma iniciativa da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia

Edição: Gabriel Bianconi Fernandes
Pesquisa: Gabriel Bianconi Fernandes e Helena Rodrigues Lopes
Produção: Gabriel Bianconi Fernandes, Helena Rodrigues Lopes e Adriana Galvão Freire
Revisão: Silvio Almeida e Luciano Silveira
Diagramação: ig+ Comunicação Integrada

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