Apesar da grande preocupação com os efeitos colaterais dos agrotóxicos, eles continuam sendo utilizados para o controle de pragas nas lavouras. Além de seus efeitos colaterais, outros problemas com a aplicação dos agrotóxicos incluem o desenvolvimento de resistência nas pragas e a ressurgência de pragas. Esta ressurgência significa que o número de indivíduos da praga por planta aumentará em algum período após a redução da praga pelo uso dos agrotóxicos. Após várias gerações das pragas, esta ressurgência pode resultar até mesmo em uma maior densidade, ou seja, maior número de indivíduos por planta, devido a aplicação de agrotóxicos do que sem esta aplicação, mesmo se os inimigos naturais forem menos susceptíveis aos agrotóxicos do que aos insetos pragas. Essas são as principais conclusões de estudo recém publicado na revista Ecology Letters.
Um dos autores do artigo científico é o Dr. Arne Janssen, professor Honoris Causa da UFV, orientador do Programa de Pós-graduação da Entomologia e professor da Universidade de Amsterdam (Holanda). Os autores utilizaram modelos matemáticos de predador-presa com vários graus de complexidade e simularam a dinâmica das pragas e de seus inimigos naturais. Para isto, eles utilizaram vários métodos e frequências de aplicação de agrotóxicos, com uma única aplicação por estação, aplicações regulares e aplicações quando o nível de pragas superou uma densidade limiar. Estas simulações mostraram que com as aplicações dos agrotóxicos, a densidade das pragas ressurge em níveis acima da densidade obtida sem o uso dos agrotóxicos, mesmo quando os inimigos naturais foram menos susceptíveis ao agrotóxico do que as pragas. Os agrotóxicos diminuíram a densidade das pragas consistentemente somente quando eles fortemente reduziram ou eliminaram os inimigos naturais. Assim, as simulações dos modelos predizem que quando os inimigos naturais estão presentes e sofrem alguma mortalidade por causa dos agrotóxicos, as aplicações dos agrotóxicos irão inicialmente resultar em diminuição da densidade das pragas, mas posteriormente ocorrerá um aumento da densidade, o que resultará no aumento da densidade média durante o desenvolvimento da estação em questão. Isto ocorrerá mesmo quando os agrotóxicos são aplicados repetidamente.
Um próximo questionamento lógico seria se há embasamento para estes resultados teóricos vindos de experimentos de campo. Desta forma, uma análise estatística foi realizada sobre dados publicados de experimentos de campos que comparavam efeitos de controle químico de pragas de plantas na presença e na ausência de inimigos naturais, durante várias gerações das pragas. A maioria dos estudos não mostraram diminuição significativa das densidades das pragas com aplicação de agrotóxicos na presença de inimigos naturais no campo, desta forma os autores confirmaram amplamente as predições. Ou seja, as densidades médias das pragas somente diminuíram significativamente com a aplicação de agrotóxicos quando os inimigos naturais estavam ausentes, o que era o caso da minoria dos estudos.
Resumindo, o estudo mostrou que com os inimigos naturais frequentemente o uso do controle químico é supérfluo. Os resultados também indicam que a eficiência dos agrotóxicos deveria ser avaliada por experimento de campo de longa duração na presença e na ausência de inimigos naturais. Provavelmente, um controle de pragas mais efetivo pode ser alcançado se a efetividade dos inimigos naturais for aumentada, o que se alcança conservando, aumentando ou liberando os inimigos naturais em campo. Além do mais, o controle natural de pragas, como ocorre no controle biológico conservativo, irá resultar em uma agricultura muito mais sustentável do que com a aplicação de pesticidas sintéticos com as suas já conhecidas desvantagens.
Para o estudo original na íntegra veja:
Arne Janssen, Paul C.J. van Rijn: ‘Pesticides do not significantly reduce arthropod pest densities in the presence of natural enemies,’ in Ecology Letters. DOI: https://doi.org/10.1111/ele.13819
Contato:
Dr. Arne Janssen (arne.janssen@uva.nl)
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