BOLETIM N. 14
Bem vindas e bem vindos de volta! Nesta edição, poderíamos dizer que estamos “beirando o absurdo” no tema da liberação do trigo transgênico resistente ao glufosinato de amônio. Na verdade, já ultrapassamos o patamar do absurdo. Nos próximos dias a liberação do trigo transgênico pode retornar a pauta de votação na CTNBio. Trata-se de mais uma jogada necropolítica, que coloca em xeque a soberania nacional, no prato o pão transgênico e em risco a agrobiodiversidade. Estar atentas e atentos “carece coragem”, mais do que nunca. Por isso, afirmamos nosso compromisso de multiplicar as sementes crioulas, de celebrar o trabalho de conservação dessas variedades desenvolvidas há gerações pelas populações camponesas e de disseminar as ideias da agroecologia. Na nossa Matéria especial, você lerá como agricultores e agricultoras da Paraíba, da Bahia e de Sergipe e suas organizações têm protegido a biodiversidade e agregado valor à produção de alimentos por meio do beneficiamento do milho crioulo, produzindo cuscuz livre de transgênicos e agrotóxicos. Na mídia, repercutimos os desdobramentos da tentativa de liberação do trigo geneticamente modificado argentino, assim como mapeamos os movimentos de resistência, aqui ou lá. Na seção “Recomendamos”, preparamos um compilado de materiais, combinando comunidades livres de transgênicos, as práticas de guardiões e guardiãs de sementes e denúncias de leis que equiparam o patrimônio biológico e cultural das sementes a meras mercadorias. |
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Matéria especial Semente crioula gera comida de verdade: experiências de beneficiamento do milho livre de transgênicos e agrotóxicos no Nordeste Já com saudades é que lembramos que nesse ano o São João teve milho livre de transgênicos direto da agricultura familiar. São diversos produtos derivados da conservação local das variedades crioulas. Vamos falar aqui de três casos, todos no Semiárido: a cooperativa Copirecê, na Bahia; o Movimento Camponês Popular, em Sergipe, e a parceria entre o Polo da Borborema e a AS-PTA, na Paraíba. Essas organizações vêm oferecendo uma diversidade de produtos derivados do milho que cada vez mais representa um alívio para quem chega ao mercado e só encontra embalagens rotuladas com o T dos transgênicos. Dentre os produtos, temos o flocão de milho para cuscuz, creme de milho, xerém, munguzá, fubá, canjiquinha, mingau de milho verde e o mingau de multicereais. Por trás de cada um desses produtos existe uma longa caminhada de luta. Clique aqui e conheça melhor a história de cada produto. |
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Sementes crioulas na mídia Sobre o trigo transgênico: manifesto de resistência • A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) adiou a liberação do trigo transgênico. Contudo, o tema pode voltar à pauta de votação nos próximos dias em reuniões ordinárias da Comissão. Seguimos em um contexto em que, de um lado, permanece a falta de transparência no processo, com estudos insuficientes sobre os malefícios do trigo geneticamente modificado resistente ao glufosinato de amônio, tanto para a saúde, quanto para o ambiente. De outro, há um completo esvaziamento da participação da sociedade civil no processo. Na última Audiência Pública a participação ficou restrita ao “direito” meramente formal do envio de perguntas por escrito, desconsiderando a importância de uma decisão que impacta diretamente a qualidade de um alimento consumido diariamente por milhões de famílias brasileiras, o pão. Diante das repercussões negativas acarretadas pela liberação do trigo transgênico, várias organizações sociais se reuniram na elaboração de um manifesto endereçado ao presidente da CTNBio e aos Ministério Públicos Federal e do Trabalho. Segurança e Soberania alimentar? • Uma série de vídeos produzidos pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Trigo Transgênico, alerta para as implicações de uma liberação atrelada a condições estabelecidas por outro país. De fato, a produção do trigo transgênico foi liberada na Argentina, sob a condição de que o Brasil libere também a compra desse grão. Se a ameaça à soberania nacional assusta, é igualmente assustador o desaparecimento de inúmeras variedades crioulas do trigo, tal como tem ocorrido desde a liberação do milho transgênico no Brasil. Possibilidade quase inquestionável, segundo a bióloga argentina Alicia Massarini. Na “mesma” Argentina • Por decisão inédita do Poder Executivo argentino, foi designado Eduardo Cerdá como Diretor Nacional de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca. Em recente entrevista, o agrônomo e professor destacou a legitimidade que a Agroecologia passa a representar no âmbito da formulação de políticas públicas e dos espaços de debate no interior do governo, em que pesem as relações assimétricas de poder, face à grande expressividade do agronegócio no país. Dentre as medidas propostas, destaca-se a criação de uma Lei de Fomento à Agroecologia, combinando desenvolvimento rural, produção, comercialização e consumo de alimentos agroecológicos. #AHistóriaQueEuCultivo • A iniciativa #AHistóriaQueEuCultivo, que prestou homenagem à memória de Emília Alves Manduca, animadora de sementes crioulas no Mato Grosso, recebeu 115 vídeos de guardiãs e guardiões da agrobiodiversidade de todo o Brasil. É chegada a hora da premiação. Nas palavras do documentarista Beto Novaes, participante da comissão de seleção, “todas as histórias são meritórias de premiação. Houve um compromisso, uma dedicação. As mensagens são o centro nos vídeos, que mostram pessoas falando com espontaneidade sobre suas vidas, tendo orgulho do seu trabalho. Elas têm um envolvimento profundo com tudo que dizem e fazem. São falas do coração que podem despertar a vontade de mais gente gravar sua história, de multiplicar conhecimentos”. |
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Recomendamos: |
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• Colocar no radar que vem aí nos dias 14 e 15 de agosto o Festival da Agrobiodiversidade, Feiras de sementes crioulas: cultivando memórias, construindo histórias e celebrando a esperança, que será integralmente transmitido online, porque, embora, a pandemia impeça os encontros presenciais, precisamos seguir fortalecidas e fortalecidos! • A quem perdeu (ou para quem quiser assistir de novo) a live “Comunidade Livre de Transgênicos”, que levou ao ar como agricultoras e agricultores familiares da Paraíba têm se organizado para garantir a produção de milho crioulo no roçado e nas comunidades. • “Uma vovó corajosa que aceitou ceder a terra para plantar milho crioulo, arroz, feijão, mandioca, abóbora” é um dos fios tecidos no documentário “Sementes”, que conta histórias de guardiãs e guardiões de sementes crioulas do Rio Grande do Sul. • A série especial “Comida é patrimônio” do podcast Nossa Prosa, produzido pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata em parceria com a UFRJ: https://soundcloud.com/cta-podcasts • O que Amazon, Facebook e Microsoft têm a ver com a produção de alimentos? Como a entrada dessas gigantes da tecnologia na agricultura pode fortalecer monopólios e abrir novos mercados para Monsanto, Cargill, Carrefour etc.? Em entrevista ao podcast Tecnopolítica, a advogada popular Larissa Packer discute esses e outros temas ligados à crescente onda de digitalização do campo. |
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EXPEDIENTE Sementes Crioulas é uma iniciativa da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia Edição: Gabriel Bianconi Fernandes e Helena Rodrigues Lopes Gostou deste Boletim? Escreva pra gente suas sugestões e comentários: revista@aspta.org.br |
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