BOLETIM N. 16
Bem vindas e bem vindos de volta! Nesta edição voltamos ao tema da escandalosa liberação do trigo transgênico no Brasil. Além de reiterar o histórico favorecimento à liberação dos transgênicos, a decisão da CTNBio não envolveu a participação de especialistas em defesa do consumidor, embora seja essa uma condição prevista em lei. Na seção “Sementes na mídia” reunimos uma série de notícias vindas dos movimentos de resistência, combinando informações sobre as Zonas Livres de Transgênicos, o trabalho das Guardiãs de sementes e ainda as rotas de bicicleta pela América Latina em defesa das sementes crioulas. Saudamos também a capacidade de resistência da natureza aos herbicidas e ecoamos as denúncias contra os cartéis alimentares. A seção “Recomendamos” traz indicações de um episódio especial da série Territórios da Agroecologia; um (Re)Encontro, com gosto de celebração, dos 20 anos da Articulação Nacional de Agroecologia; o memorial dos Encontros Nacionais de Agroecologia (ENAs) e um estudo recente do sociólogo Jean van der Ploeg, no qual são discutidas a crise alimentar global no contexto da pandemia do coronavírus e a alternativa agroecológica em construção. |
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Matéria especial Trigo transgênico, aqui não! Ilustração: Ribs/GT Biodiversidade da ANA. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio liberou este mês a importação de trigo transgênico da Argentina. O cereal geneticamente modificado para resistência à seca e ao herbicida glufosinato de amônio não foi liberado em nenhum outro lugar do mundo. O Brasil importa cerca da metade do trigo que consome, sendo que quase 90% dessas importações vêm da Argentina. Esse fato justifica a insólita decisão do país vizinho de autorizar a produção nacional do trigo transgênico desde que o Brasil, por seu lado, autorize a importação, numa espécie de venda casada. Vale lembrar que a CTNBio decidiu abrir o mercado brasileiro para o trigo transgênico argentino sem que tenham sido nomeados dentre seus integrantes, como manda a lei, especialistas para a defesa dos interesses dos consumidores. Clique aqui e entenda o porquê de uma campanha Trigo transgênico, aqui não! |
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Sementes crioulas na mídia Na rota da resistência • As Zonas Livres de Transgênicos têm se revelado como áreas eficazes para a fiscalização da circulação das variedades transgênicas, além de cumprirem o papel de salvaguarda das sementes crioulas. No Espírito Santo, uma comissão específica do Fórum Espírito-Santense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos (Fesciat) tem se dedicado ao fortalecimento dessas Zonas por meio do levantamento e organização de dados científicos sobre a presença das sementes transgênicas no estado, que, embora em circulação, não estão registradas em nenhum órgão estatal responsável. Sementes crioulas e agricultura familiar conquistam lei municipal. A Lei nº 206 de 2014 criou o Programa Municipal de Sementes de Lagoa Seca/PB, porém foi em 2021, como parte da iniciativa Agroecologia nos Municípios, promovida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que essa foi implementada. Ocupar os espaços de decisão política, requer “muita organização, mobilização social e estratégia para fazer pressão e forçar este movimento de mudança”. (Vale uma olhadinha sobre as estratégias históricas traçadas no município, combinando ações da sociedade civil e parcerias com o poder público) No Rio Grande do Sul é a hora e a vez das guardiãs de sementes crioulas. “Ser guardiã é como ser mãe daquela semente”, descreve a agricultora Joelita Bittencourt, que cultiva grande diversidade de alimentos, como milho, feijão, batata-doce, amendoim, melão e melancia em uma área de apenas um hectare. Uma viagem de mais de 10 mil quilômetros foi o roteiro de bicicleta dos agricultores Ivânia e Manoel pela América do Sul na busca e defesa das sementes crioulas. A decisão do casal foi motivada pela fragilidade de acesso às “sementes naturais”. “Não tinha sementes para reproduzir. Estávamos dependentes do mercado”, afirma Manoel. Além da coleta, multiplicação e distribuição de sementes entre Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, o casal explica que a viagem levava também a mensagem de defesa da agroecologia e das políticas públicas em prol das sementes crioulas e da agricultura camponesa. Em tempo! A saga do casal pode ser apreciada no documentário Ciclovida. Cartel de alimentos: controle do plantio ao prato • Séculos é a referência temporal de Sam Parker para abordar o processo de privatização da agricultura. História que perpassa o controle refinado exercido por empresas e famílias, como os Rothschilds e Rockefellers, sobre as sementes, os insumos, a terra, a água e a produção de alimentos. Para o autor, configura-se aí um projeto no qual “o genocídio é uma intenção (…), não um efeito colateral”. Na guerra das biotecnologias, as ervas estão vencendo • A invenção do glifosato prometia o fim das plantas espontâneas, sobretudo quando combinado à variedade da soja transgênica resistente ao herbicida. Não foi assim. As plantas desenvolveram adaptações biológicas que as tornaram resistentes ao veneno, como é o caso da Palmer amaranth (Caruru ou Amarantos). Primeiro, foi a resistência ao glifosato, que fez produtores apelarem ao uso do desfolhante 2,4-D. O resultado foi uma maior resistência a ambos. Segundo os cientistas, reside aí um anúncio de que a agricultura pode não ser mais a mesma devido às resistências que estão acontecendo na natureza “o tempo todo e em todo lugar”. |
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Recomendamos: |
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• Uma visita à propriedade da agricultora Maria Andrelice dos Santos, no assentamento Dandara dos Palmares, no baixo Sul da Bahia, onde o trabalho da família garante uma agricultura diversificada, com beneficiamento e comercialização da produção. • A leitura do estudo do sociólogo Jan Van der Ploeg “O sistema alimentar em tempos de Covid-19: ensinamentos para o futuro”. Publicado pela AS-PTA na série “Cadernos de Debate”, em parceria com o site Outras Palavras, o estudo foi lançado em live com a participação do autor e da agricultora Roselita Vitor, do Polo da Borborema/PB. • A Roda de conversa (Re)Encontro, organizada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) sobre o primeiro Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), realizado em 2003. O Re(Encontro) reuniu os/as representantes do primeiro Núcleo Executivo da ANA, agricultores/as, e teve samba e muitas boas lembranças. • Visitar o Memorial dos Encontros Nacionais de Agroecologia, recém inaugurado pela ANA, onde são guardadas memórias e histórias da caminhada da agroecologia no Brasil, mas que anuncia também lutas a serem travadas. |
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EXPEDIENTE Sementes Crioulas é uma iniciativa da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia Edição: Gabriel Bianconi Fernandes e Helena Rodrigues Lopes Gostou deste Boletim? Escreva pra gente suas sugestões e comentários: revista@aspta.org.br |
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Fico encantado com o trabalho de vocês, nem preciso elaborar sobre o assunto, somente desfrutar e propagar o que vocês fazem.
Oxalá volte em dobro o bem que vocês emanam.