Publicado no jornal Popular
Goiânia, 29/04/2010
Haverá algum desfecho que aponte rumo claro para a questão das variedades agrícolas geneticamente modificadas (OGMs), principalmente alimentos ? Defensores desses produtos, especialmente as poucas empresas que os patenteiam e comercializam no mundo todo, argumentam que eles reduzem os custos com o uso de herbicidas e até aumentam a produtividade. Já os críticos sustentam que com o tempo aumenta a resistência das “pragas” combatidas com o uso de glifosato (ao qual os transgênicos são resistentes); por isso, aumentam os custos, já onerados pela obrigação de os agricultores que usem sementes transgênicas pagarem royalties aos fabricantes; e também já haveria indícios de que, ao longo do tempo, cai a própria produtividade das culturas transgênicas.
É um tema relevante para o Brasil e para Goiás. No país, no ano passado, foram 21,4 milhões de hectares cultivados, principalmente milho – 53% do total -, soja e arroz, ou 16% do total mundial. E já somos o segundo maior importador de glifosato no mundo. Em Goiás, segundo Thiago Costa Dias, consultor da Federação da Agricultura e Pecuária (O POPULAR, 2/4), foram 3,4 milhões de hectares plantados, que levaram ao consumo de 10 milhões de litros de glifosato, 70% dos quais fabricados por uma única empresa.
Mas há muita polêmica. Há poucas semanas, um estudo da Secretaria de Agricultura do Paraná a respeito da safrinha mostrou que houve contaminação de milho convencional pelo transgênico, mesmo em áreas onde foram obedecidas as regras mínimas de distância entre um e outro, exigidas pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Já no Mato Grosso, a Aprosoja, que defende interesses dos produtores de soja e milho, está entrando na Justiça para contestar o direito de os produtores de sementes transgênicas cobrarem royalties de R$ 15 reais por hectare dos produtores que as usem em 3 milhões de hectares. Já no Rio Grande do Sul os produtores de soja lamentaram não ser capazes de fornecer à Alemanha 38 milhões de toneladas anuais de produto convencional, porque o Estado só está produzindo 9 milhões de toneladas anuais – o resto é soja transgênica. Perderão, com isso, um sobrepreço de R$ 20 reais por tonelada que alemães pagam pelo produto convencional.
Já o professor Rubens Nodari (SC) apresentou estudo comprovando que o milho convencional pode ser contaminado por variedades transgênicas, mesmo obedecendo às regras mínimas de plantio e outras exigidas pela CTNBio. E o professor Paulo Kageyama, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e representante do Ministério de Meio Ambiente na CTNBio, argumentou que as variedades transgênicas de eucalipto não servem para ser utilizadas como madeira ou carvão; só para a produção de celulose. Apesar dessas evidências científicas, o governo federal está discutindo proposta do Ministério da Agricultura, de abrandar as exigências para plantio de transgênicos nas imediações de unidades de conservação.
Fora do Brasil, embora os transgênicos continuem avançando, as restrições se ampliam. O Senado da Suíça prorrogou até 2013 a moratória que impede o plantio comercial de transgênicos. A Romênia vai reduzir a zero o plantio de arroz transgênico, depois de provada a contaminação de cultivos convencionais. França, Alemanha, Áustria, Grécia, Irlanda, Polônia e Hungria mantêm suas proibições. Mas nos Estados Unidos os transgênicos continuam avançando – segundo o professor Kageyama, porque “as regras lá são frouxas”. E na Espanha foi aprovado o uso industrial de batata transgênica, embora no continente europeu a redução dos transgênicos no mercado tenha sido de 11% em 2009.
Em outros países da América Latina a polêmica também segue forte, principalmente na Argentina e Colômbia. Estudos no Laboratório de Embriologia Molecular da Universidade de Buenos Aires afirmam haver comprovado que o glifosato pode provocar má-formação genética em humanos, deformação de embriões, alterações nas células, abortos espontâneos, mutilações de membros, linfomas e leucemia. Já a Justiça de Santa Fé proibiu fumegações de glifosato em culturas próximas de áreas urbanas. E, diante de evidências apresentadas por agricultores, deu aos produtores de glifosato seis meses de prazo para que provem não ser ele danoso a humanos. Já nos Estados Unidos, o Conselho Nacional de Pesquisas da Academia Nacional de Ciências diz que houve vantagens no plantio de transgênicos; mas o uso repetido ameaça”erodir os ganhos”.
Ainda assim, a China aprovou o plantio de arroz transgênico e seu consumo por mais de um bilhão de pessoas.
Defensores dos transgênicos argumentam que não há um só estudo epidemiológico que comprove terem eles efeitos negativos na saúde humana. Já um renomado pesquisador norte-americano afirma que “a ausência de evidência” desses danos não quer dizer “evidência de ausência”. Simplesmente porque não há estudos epidemiológicos, que levam anos. Mas há 90 milhões de casos anuais de alergia no sistema de saúde, que não têm explicação.
Washington Novaes é jornalista