Mauro Zanatta, para o Valor Econômico, 21/05/2010.

Em meio a uma nova batalha com produtores e pesquisadores, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) finalizou os procedimentos para aprovar a comercialização da primeira variedade de arroz geneticamente modificado no país. O pedido da multinacional Bayer CropScience para liberação do arroz transgênico “Liberty Link” deve ser apreciado pelo plenário do colegiado em 24 de junho.

Mas produtores de arroz e membros da CTNBio prometem pressionar para adiar a votação, com apelos ao Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), composto por 11 ministros de Estado. “Se a CTNBio liberar, vamos apelar aos ministros”, diz o presidente do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Maurício Fischer. “Somos favoráveis à pesquisa, mas não à comercialização. Não queremos que o governo libere para plantio porque esse arroz não tem aceitação no exterior”.

Em 2009, o Brasil exportou 1 milhão de toneladas do cereal para 60 países, sobretudo na África e América Latina. “Dizem que na China já aprovou, mas isso vai estragar nosso mercado lá fora”. Os Estados Unidos, segundo ele, perderam mercado por causa da mistura do arroz transgênico da Bayer com cereal convencional. “Temos que manter janela aberta e cliente ativo”.

A CTNBio considera encerrada a temporada de análises sobre os aspectos científicos do arroz transgênico. O presidente Edilson Paiva comunicou que o pedido está pronto para ser votado. “Está na bica porque já cumpriram tabela com um debate. Vai entrar em junho quando estiver tudo desmobilizado por causa da Copa do Mundo”, diz Leonardo Melgarejo, do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Um grupo de pesquisadores da CTNBio questiona a liberação por causa de dúvidas sobre o novo produto. “A Bayer fez estudos apenas no Rio Grande do Sul. Áreas importantes, como Mato Grosso, não foram testadas”, diz o geneticista Paulo Kageyama, representante do Ministério do Meio Ambiente no colegiado. “Na questão de fluxo gênico, não há respostas para o cruzamento com variedades de arroz selvagem. Testaram uma, mas outros quatro tipos ficaram de fora”.

Em março de 2009, uma audiência pública já havia debatido o assunto. O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, o geneticista Flávio Breseghelo, anunciou a oposição da estatal à liberação do arroz porque o gene “Liberty Link” tornaria a planta daninha conhecida como arroz vermelho em uma praga incontrolável e resistente a herbicidas. Haveria, disse, ameaça à segurança alimentar e um problema agronômico ao país. Na quarta-feira, porém, outro pesquisador da estatal, Ariano Magalhães Junior, afirmou não ver problemas na liberação comercial do arroz da Bayer.

O Valor procurou a direção da Embrapa para esclarecer a divergência, mas não conseguiu falar com o presidente Pedro Arraes.