Valor Econômico, 24/06/2010.
A Bayer CropScience comunicou ontem a retirada temporária de seu arroz geneticamente modificado “LibertyLink” da pauta de discussões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em Brasília. Em nota, a multinacional alemã informou que pretende “ampliar o diálogo” com o setor produtivo.
A decisão é uma resposta à polêmica criada com a possibilidade de aprovação do primeiro arroz transgênico no Brasil, que desde o mês passado tem levantado críticas de especialistas sobre a segurança alimentar da nova variedade e dúvidas entre produtores sobre a aceitação do cereal no mercado internacional.
Joga luz também sobre a dificuldade que produtos transgênicos direcionados ao consumo humano enfrentam. Em 2004, a americana Monsanto abandonou as pesquisas com trigo após consultas com compradores no mercado internacional revelarem que eles não tinham intenção de comprar o alimento transgênico.
Segundo a assessoria de imprensa da empresa, “a Bayer CropSciente está empenhada não apenas em obter o apoio de parceiros no processo de aprovação, incluindo os produtores, mas em obter a aceitação ampla do mercado antes de comercializar o LibertyLink”. A tecnologia dá resistência ao herbicida glufosinato de amônio, que controla pragas daninhas nas plantações.
“É um direito deles, paciência”, disse Edilson Paiva, presidente da CTNBio. “Eles alegaram que precisam de tempo para informar melhor seus possíveis clientes”. De acordo com Paiva, o processo do arroz transgênico da empresa, apresentado em 2003, caminhava para a aprovação.
Para o Greenpeace, foi uma boa notícia. “A Bayer fez estudos toxicológicos em frangos, que não digerem arroz. Eram estudos que não falavam muito”, afirma Iran Magno, coordenador da campanha de transgênicos no país.
A variedade recebeu sinal verde nos EUA (SIC), mas a contaminação de uma carga para a Europa de grão convencional pelo transgênico levou à proibição de embarques do produto americano, provocando prejuízos vultosos ao país. Recentemente, a China emitiu um certificado de biossegurança de uma variedade desenvolvida no país, e espera-se que a comercialização do produto comece em até três anos.
No Brasil, a tecnologia suscitou temores até mesmo dentro da Embrapa, com o alerta de um pesquisador para o dano potencial de contaminação de espécies convencionais e selvagens.
Produtores do Rio Grande do Sul também manifestaram desinteresse pela variedade, temendo fechar janelas no exterior. Tradicionalmente, os arrozeiros brasileiros voltam-se aos mercado internacional para sustentar os preços internos. Essa possibilidade poderia ser anulada já que a Europa é arredia a transgênicos.
Em 2009, o Brasil exportou 1 milhão de toneladas do cereal.