VALOR ECONÔMICO, 16/12/2010.
Feijão transgênico
Pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e da Embrapa Arroz e Feijão, entregaram à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) pedido de liberação para cultivo comercial de variedades de feijão transgênicas resistente ao vírus do mosaico dourado, o pior inimigo dessa cultura agrícola na América do Sul. A doença está presente em todas as regiões do país.
Embrapa entra com pedido para liberação comercial de feijão geneticamente modificado (15/12/2010)
http://www.embrapa.gov.br/imprensa/noticias/2010/dezembro/2a-semana/embrapa-entra-com-pedido-para-liberacao-comercial-de-feijao-geneticamente-modificado
Pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e da Embrapa Arroz e Feijão, duas das 46 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, entregaram na quinta-feira (15) à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio pedido de liberação para cultivo comercial de variedades de feijão transgênicas resistentes ao vírus do mosaico dourado, que é o pior inimigo dessa cultura agrícola na América do Sul. No Brasil, a doença está presente em todas as regiões e, se atingir a plantação ainda na fase inicial, pode causar perdas de até 100% na produção.
Essa iniciativa é resultado de mais de 10 anos de pesquisa e marca um feito inédito no Brasil: são as primeiras plantas transgênicas totalmente produzidas por uma instituição pública de pesquisa. Além dos centros da Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, as análises de biossegurança envolveram os centros da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Embrapa Agrobiologia e a UNESP.
Nova tecnologia de transformação genética
Para chegar às variedades geneticamente modificadas (GM), os pesquisadores Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e Josias Faria, da Embrapa Arroz e Feijão, utilizaram quatro estratégias de transformação genética.
Em linhas gerais, eles modificaram geneticamente a planta para que ela produzisse uma molécula – o RNA – responsável pela ativação de seu mecanismo de defesa contra o vírus mosaico dourado, devastador à lavoura.
“Mimetizamos o sistema natural”, diz Francisco Aragão, explicando que a grande vantagem dessa nova técnica é que não há produção de novas proteínas nas plantas, e consequentemente, não há possibilidade de alergenicidade e toxidez. Além disso, a tecnologia de RNA pode causar resistência a várias estirpes do mesmo vírus.
Os pesquisadores, paralelamente, construíram um vetor para geração de plantas transgênicas, com o objetivo de bloquear a ação do gene AC1 viral, essencial para a replicação do genoma do vírus do mosaico dourado.
Desde 2006, os pesquisadores da Embrapa repetem pesquisas de campo com o feijão transgênico em Sete Lagoas (MG), Londrina (PR) e Santo Antônio de Goiás (GO), regiões de alta produção no país. Em todos os casos, os grãos foram infectados naturalmente pelo mosaico dourado. Os transgênicos, diz Aragão, não apresentaram sintomas da doença. Os convencionais tiveram de 80% a 90% das plantas afetadas.
Além de testar a eficiência das variedades transgênicas, essas análises avaliaram a biossegurança para comprovar a sua inocuidade ao ambiente e à saúde humana.
Impactos sociais da engenharia genética
Esse projeto é um exemplo significativo de impacto social e alimentar do uso da engenharia genética. No Brasil o feijão é uma cultura de extrema importância social, já que é produzido basicamente por pequenos produtores, com cerca de 80% da produção e da área cultivada em propriedades com menos de 100 hectares.
Além disso, é a principal fonte vegetal de proteínas (o teor das sementes varia de 20 a 33%), além de ser também fonte de ferro (6-10 mg/100 g). Associado ao arroz dá origem a uma mistura tipicamente brasileira e ainda mais nutritiva e rica em vitaminas. Na verdade, a importância do feijão na alimentação transcende as fronteiras brasileiras, sendo a leguminosa mais importante na alimentação de mais de 500 milhões de pessoas na América Latina e África.
A produção mundial de feijão é superior a 12 milhões de toneladas. O Brasil ocupa o segundo lugar na produção mundial, mas sua produção ainda não é suficiente para suprir a demanda interna, o que se deve em grande parte às perdas causadas por pragas e doenças como o mosaico dourado do feijoeiro, associadas a estresses hídricos.
As variedades transgênicas de feijão garantem vantagens econômicas e ambientais, com a diminuição das perdas e garantia das colheitas. Segundo Aragão, “a variação econômica acontece quando a safra é prejudicada por doenças ou pela seca, pois a oferta e o preço para o consumidor sobem consideravelmente. Com a variedade GM, a planta torna-se resistente ao vírus e as perdas diminuem, estabilizando o preço do produto”, comenta.
Fernanda Diniz ( MTb 4685/89/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Fones: (61) 3448-4769 e 3340-3672
E-mail: fernanda@cenargen.embrapa.br
O problema ainda não considerado está no fato de que esta resistência provêm do que? Apenas a alteração genética promovida pelo cruzamento entre espécies de mesmo padrão genético, ou foi imputado um gene de uma espécie completamente distinta do feijão, provida de alguma bactéria e desenvolveram algum agrotóxico que mata o vírus e mantém o feijão envenenado?
Neste caso a modificação genética foi feita introduzindo-se no feijoeiro genes do próprio fungo que causa a doença, que é transmitida pela mosca branca. Os pesquisadores que desenvolveram essa variedade alegam que os feijoeiros transgênicos ficaram imunes ao vírus – quando este era idêntico àquele de onde foi extraído o gene. Resta saber, entre outras coisas, o que acontecerá nos demais casos…