Agostinho Vieira
O Globo, 09/06/2011 | Coluna Eco Verde
Há oito anos, preocupado, o país acompanhava a polêmica sobre a soja transgênica plantada no Rio Grande do Sul. O debate envolvia questões de saúde, meio ambiente e até polícia, pois as sementes haviam sido contrabandeadas da Argentina. Diante do fato consumado, o presidente Lula autorizou a venda da safra. De lá pra cá, chegamos ao posto de segundo maior produtor de transgênicos do mundo. E, ao de campeões absolutos no consumo de agrotóxicos. Com a incrível marca de 5,2 kg por habitante.
A lei que regula o plantio e a comercialização do produto foi aprovada em 2005, depois de forte pressão do agronegócio. Mas, até 2008, apenas duas variedades de sementes transgênicas tinham sido liberadas pela Comissão Técnica de Biossegurança (CTNBio). Em menos de três anos, esse número pulou para 28 e mais oito esperam na fila por um sinal verde, quase todas referentes às culturas de soja, milho e algodão.
Em março, cerca de 30 entidades entregaram um documento ao Ministério da Ciência e Tecnologia pedindo uma revisão nesses processos de aprovação. Mas até agora não obtiveram resposta. Em lugar disso, a última reunião do CTNBio reduziu de 90 para 30 dias o rito de tramitação. Segundo as entidades, numa clara violação do princípio da precaução, adotado no mundo todo para casos como esses.
Há um mês, a Elma Chips anunciou que usará milho transgênico em seus produtos, pois está cada vez mais difícil conseguir milho convencional. Quem exporta para a Europa está tendo que rastrear e certificar a produção para provar que ela está livre de organismos geneticamente modificados (OGMs). Para os defensores, os transgênicos não fazem mal hoje e não farão no futuro. Outros estudos desmentem essa tese. Saúde e meio ambiente estariam sendo ameaçados. Ou seja, uma dúvida suficientemente séria para que este assunto fosse tratado com um pouco mais de responsabilidade.