As declarações do presidente da Embrapa na matéria abaixo deixam claro que ele desconhece a legislação nacional de biossegurança. Testes nos ecossistemas onde o produto transgênico pode vir a ser cultivado são exigidos por lei. No caso em questão, pesquisas de campo foram feitas apenas em Santo Antonio de Goias (GO), Londrina (PR) e Sete Lagoas (MG).

Pedro Arraes deve estar se referindo a si mesmo quando diz que tem gente que não fala com base em critérios científicos. Se tivesse aberto o processo do feijão transgênico veria lá que os proponentes ainda não sabem explicar muito bem como funciona o transgene criado. Teria visto também outros cientistas criticando a eficácia do projeto na principal revista científica da área (Nature Biotechnology). Além disso, se perguntaria porque aqui foram encontradas apenas 26 proteínas enquanto outros estudos acharam mais de 500 também no feijão.

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por Tarso Veloso

VALOR ECONÔMICO, 08/09/2011.

Em meio à promessa de fortes investimentos em transgênicos, a Embrapa acompanha a polêmica da possível liberação do feijão geneticamente modificado, resistente ao vírus “mosaico dourado”, pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

O feijão é bombardeado em várias frentes. Membros da própria CTNBio criticam a “agilidade” dada à liberação. Enquanto isso, ONGs criticam a falta de pesquisas controladas no meio ambiente para liberar a comercialização do produto. Durante a última reunião, no início do mês, houve bate boca e pedido de vistas do processo. A decisão ficou para a próxima plenária, no dia 15 de setembro.

A votação, segundo o diretor-presidente da Embrapa, Pedro Arraes, é de responsabilidade da CTNBio. “Não podemos ser juízes quando estamos sendo julgados”, disse. A expectativa, porém, é de sucesso. “A gente espera que o feijão seja aprovado. Foi um investimento imenso. Acreditamos que vai aumentar a renda do produtor”. Dentre as várias dificuldades encontradas nos mais de 20 anos de pesquisa da companhia, Arraes diz que nunca havia sido encontrada uma planta resistente à doença. “Em várias regiões do país a mosca impediu o plantio do feijão.”

Quanto às críticas de que a Embrapa não realizou todos os testes de segurança, o presidente da Embrapa foi enfático. “Fizemos todos os testes que poderíamos e deveríamos ter feito. Testamos para ver se interferia na flora do solo, testamos para ver as proteínas do grão, se eram diferentes de um feijão comum, e outras coisas. Foram praticamente 300 páginas de estudo demonstrando que o feijão transgênico é idêntico ao comum. São irmãos iguais”, defendeu Pedro Arraes. Os documentos foram enviados à CTNBio. “Se a CTNBio cobrar algum dado, forneceremos as informações científicas”, avisou.

ONGs reclamaram que o feijão não foi testado em todos os biomas brasileiros. Para o assessor técnico da ONG Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA), Gabriel Fernandes, ficou clara a falta de avaliação por parte do colegiado. “O produto só foi testado em três localidades, o que equivale a dois biomas brasileiros. A legislação deixa claro que ele tem que ser testado em todos os biomas em que será cultivado”.

Arraes confirma a queixa da AS-PTA, mas se defende. “Realmente não foi testado em todos os componentes. É preciso ter cuidado. Quando você está testando um transgênico, não pode sair espalhado, já que está em teste. Tudo que se diz que tem que ser feito nós fizemos”, afirmou.

Para Arraes, a discussão em torno do tema sempre é polêmica. “Você vai ter sempre o lado das pessoas que não falam com base de critérios científicos e são contra desde sempre. A Embrapa sempre vai defender o lado científico e da pesquisa com responsabilidade”.