IDEC, 22/10/2012
Estudo comprovou maior incidência de câncer e morte em ratos alimentados com transgênicos; produto amplamente utilizado no Brasil foi liberado em 2008, com base em estudos de curto prazo
O Idec assinou junto a outras entidades um ofício de urgência pedindo a suspensão da liberação comercial do milho trangênico NK603 no Brasil após a publicação do primeiro estudo de longo prazo sobre os efeitos do produto no organismo.
Confira a íntegra do documento.
Realizado na Universidade de Caen, na França, o estudo foi realizado ao longo de dois anos com 200 ratos de laboratório. Os ratos foram separados em três grupos, cada um alimentado de maneira diferente: apenas com milho NK603, com milho NK603 tratado com Roundup (o herbicida mais utilizado do mundo) e com milho não alterado geneticamente tratado com Roundup. Tanto o milho quanto o herbicida são propriedade do grupo americano Monsanto.
O milho em questão foi autorizado no Brasil em 2008 e está amplamente disseminado nas lavouras e alimentos industrializados. O Roundup é também largamente utilizado em lavouras brasileiras, sobretudo as transgênicas.
Os resultados revelaram mortalidade mais alta e frequente quando se consome esses dois produtos. As fêmeas desenvolveram numerosos e significantes tumores mamários, além de problemas hipofisários e renais. Os machos morreram, em sua maioria, de graves deficiências crônicas hepato-renais. O estudo foi publicado no dia 19/9 em uma das mais importantes revistas científicas internacionais de toxicologia alimentar, a Food and Chemical Toxicology.
De acordo com o coordenador do estudo, o professor Gilles-Eric Séralini, os efeitos do milho NK603 só haviam sido analisados até agora em períodos de até três meses. No Brasil, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) autoriza o plantio, a comercialização e o consumo de produtos transgênicos com base em estudos de curto prazo, apresentados pelas próprias empresas que requisitam o registro.
O estudo coloca um fim à dúvida sobre os riscos que os alimentos transgênicos representam para a saúde da população e revela a frouxidão das agências sanitárias e de biossegurança em várias partes do mundo responsáveis pela avaliação e autorização desses produtos.
Idec alerta sobre o assunto desde 2007
No início de outubro foi adiado o julgamento que deveria decidir sobre uma apelação da ação proposta em 2007 pelo Idec que questionava a legalidade do parecer técnico emanado pela CTNBio aprovando a liberação de outro milho geneticamente modificado, o Milholl (Milho Liberty Link), da empresa multinacional Bayer.
A decisão técnica da CTNBio que autorizou a liberação do Milholl foi objeto de recurso administrativo interposto pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), sustentando tecnicamente a contrariedade à liberação do produto geneticamente modificado em razão da precariedade da avaliação de riscos realizada.
A ação foi julgada parcialmente procedente para anular a autorização para liberação comercial no Norte e Nordeste do Brasil e determinar que a União edite a norma no que se refere aos pedidos de sigilo de informações pelos proponentes de liberação de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados). A norma deve passar a prever o acesso completo do teor dos documentos solicitados, com exceção apenas das informações que tiverem sigilo deferido.
Ainda não há nova data prevista para o julgamento.
Ontem (22/10/2012), duas agencias de saúde da França: a Haut Conseil des Biotechnologies (HCB) e a Agence Française de Sécurité Sanitaire (Anses), pronunciaram-se sobre o estudo de Seralini. Ambas contestaram o estudo e fizeram pesadas críticas.
http://www.lemonde.fr/planete/article/2012/10/22/ogm-les-autorites-scientifiques-francaises-critiquent-les-travaux-de-m-seralini_1779061_3244.html
Diante dos julgamentos, Seralini também se pronunciou: “Vão dissecar os estudos da Monsanto como fazem com os meus?”
http://www.lemonde.fr/planete/article/2012/10/22/pour-mamere-le-hcb-n-est-pas-suffisamment-independant-pour-etre-convaincant_1779163_3244.html
Segundo Stéphane Foucart, as evidencias fornecidas pelo estudo, são insuficientes para comprovar a toxicidade do milho NK603 e/ou do agrotóxico associado (Roundup). Não significando, porém, que o milho ou o herbicida sejam inofensivos. Apenas que a evidencia de toxicidade não foi demostrada pelo estudo. Tanto é que as agencias recomendaram mais estudos independentes e de longo prazo que avaliem os impactos dos transgênicos na saúde.
http://www.lemonde.fr/planete/article/2012/10/22/ogm-les-agences-de-securite-sanitaire-ont-une-responsabilite-dans-la-defiance-de-la-population_1779287_3244.html
Elas questionaram 2 pontos basicamente:
1. O tamanho da amostra: eles entendem que devido ao longo tempo do estudo, a amostra deveria ser maior para que pudessem distinguir ruído estatístico de efeitos biológicos reais.
[Já passou da hora de se estabelecer protocolos de avaliação de riscos para OGM, não?]
2. A falta de um mecanismo para a compreensão de como o milho transgênico poderia ter um efeito deletério sobre os animais. A maioria dos toxicologistas e biólogos não viu relação comprovada entre a transgenia com o desenvolvimento das doenças mencionadas (fígado, mama e rins, a expectativa de vida reduzida). Por isso entendem que os resultados do estudo não são significativos.
Seralini não entregou os dados brutos do estudo, disse que faria isso se a Monsanto entregasse os dados de seus estudos. [melhor sentar]
Ainda segundo Stéphane Foucart,
“As instituições científicas e agências de saúde têm uma responsabilidade nesta situação por causa de seus fracassos passados. Recorde-se que o Comité Permanente do Amianto (o núcleo do amianto – lobby industrial entre 1982 e 1994) foi parcialmente composto por toxicologistas ilustres membros da Academia de Medicina… Diferentes casos ou escândalos, que no passado destacaram o conflito de interesses dentro das agências de saúde e segurança, em especial a EFSA (European Food Safety Authority). Estas situações devem ser denunciados em um relatório do Tribunal de Contas Europeu. Tudo isso não ajuda a construir a confiança entre o público e os órgãos científicos.”
“O objetivo deste trabalho é, certamente, um debate público sobre a fraqueza de testes regulamentares em que os OGM e os pesticidas são colocados no mercado. A partir deste ponto de vista, o Sr. Séralini tem sido muito bem sucedido, uma vez que esta questão está agora na agenda.”
Como estamos comprovando agora, realmente alterar a natureza destas plantas com o fim nitido mercantilista de controle mundial de alimentos tanto da gigante Monsanto, como Bayer e outras poucas similares, estará trazendo a humanidade males ainda sequer conhecidos, mas que já se delineiam como mostra este estudo um pouco mais aprofundado nestes alimentos.
Não para estes alimentos transgenicos! que só se liberem após estudos tal que os efeitos sejam feitos em periodos compativeis com a vida humana.