AGÊNCIA CÂMARA, 08/11/2012
A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável deverá criar subcomissão para avaliar situação dos transgênicos no País. A criação do grupo, sugerida pelo deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), deverá ser posta em votação na comissão na próxima semana, segundo o presidente do colegiado, deputado Sarney Filho (PV-MA).
A ideia de acompanhar a liberação, comercialização e monitoramento dos organismos geneticamente modificados no Brasil surgiu após audiência pública, nesta quinta-feira, sobre o assunto. No Brasil, 52 variedades transgênicas já foram liberadas. Nenhuma delas perdeu a autorização até hoje.
Sarney Filho entende que, desde a aprovação da Lei de Biossegurança, em 2005, o Congresso dedicou pouca atenção ao tema. “É preciso que a gente reveja a interação desses organismos com nossos biomas. Não só mais rigor na saúde humana, mas também mais rigor no que diz respeito aos nossos ecossistemas, com a interação com outros organismos e com qualquer possibilidade que venha afetar nossa biodiversidade.”
Sem segurança
Representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Leonardo Melgarejo avalia que o País está liberando variedades transgênicas numa velocidade que a ciência não consegue responder sobre a segurança da tecnologia.
Melgarejo diz que, dentro da CTNBio – órgão responsável pela autorização de pesquisa e comercialização dos organismos geneticamente modificados –, o grupo de pesquisadores que defende mais cautela na liberação tem sido sistematicamente voto vencido.
O gestor destaca que a maioria dos estudos sobre transgênicos é patrocinada por empresas do setor, os quais apontam a ausência de risco. Mas levantamentos independentes, segundo ele, indicam dúvidas.
Provoca câncer?
Um dos estudos mais recentes, coordenado pelo professor Gilles-Eric Séralini, da Universidade de Caen, na França, relaciona a incidência de câncer em ratos que se alimentaram do milho geneticamente modificado NK 603.
“Gostaríamos muito que a maioria estivesse certa e que preocupações que nós enxergamos se mostrassem não significativas no futuro”, afirmou Melgarejo. “Infelizmente, o que vem acontecendo é que mais e mais surgem indícios de problema e esse trabalho do professor Séralini é o primeiro com demonstração de problema sobre a saúde. Problemas ambientais temos muitos.”
Imprecisões estatísticas
Provocada por ONGs ambientalistas e de direito do consumidor, a CTNBio designou um grupo de pesquisadores para avaliar os resultados da pesquisa francesa. A conclusão dos cientistas ouvidos pela comissão é de que o estudo francês apresenta imprecisões estatísticas e falhas metodológicas. O caso, no entanto, não está fechado.
Segundo o presidente da CTNBio, Flávio Finardi, o assunto voltará à discussão da comissão em reunião em dezembro. Finardi nega que a precaução não seja levada em conta nas decisões do órgão. “O princípio da precaução, que é tão alegado em questões ligados à biotecnologia, é considerado dentro da CTNBio, porque analisamos caso a caso, cada processo”, disse Finardi. “Cada vez que surgem novos fatos, vamos procurar o novo entendimento sobre aquele processo e sempre temos reavaliado nossas posições. Nossas posições são científicas, e a ciência pode mudar. Mas essas mudanças são acompanhadas.”
Não é o que tem ocorrido na prática, na avaliação de Gabriel Fernandes, da ONG AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia. Segundo ele, não existe no País controle sobre os efeitos dos organismos geneticamente modificados após a liberação de uso comercial no campo. “A CTNBio precisa rever suas decisões à medida que a ciência avança. Novos conhecimentos deveriam ser levados em conta em novas avaliações.”
Aumento da produtividade
Segundo o pesquisador da Embrapa Elibio Rech Filho, existe um consenso de que a produção de alimentos no planeta precisará dobrar, até 2050, para dar conta da demanda mundial.
Para aumentar a produtividade, o pesquisador prevê que serão necessárias novas tecnologias, inclusive envolvendo organismos geneticamente modificados. “O uso de transgênicos é componente importante para a nova métrica da agricultura”, diz.
08/11/2012 09:36
A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável promove audiência pública hoje, às 10 horas, no Plenário 8, para debater a atual situação dos transgênicos no Brasil. O evento foi pedido pelo deputado Sarney Filho (PV-MA).
Foram convidados para discutir o tema com os deputados:
– o representante da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Leonardo Melgarejo;
– o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Elíbio Leopoldo Rech Filho;
– o analista mmbiental da Diretoria de Proteção Ambiental do Ibama, Sandro Rangel;
– o assessor técnico da ONG AS-PTA, Gabriel Bianconi Fernandes; e
– o ex-presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Edilson Paiva.
Engenharia genética
Os transgênicos são produtos que resultam da engenheira genética – plantas e animais, por exemplo. Eles são obtidos pelo cruzamento de seres diferentes: plantas, animais, fungos, micróbios. “Essas misturas, que jamais ocorreriam na natureza, estão sendo feitas e geram Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Eles podem ser usados em diversas áreas, mas o principal mercado é o da agricultura e, por extensão, o de alimentos”, ressalta o parlamentar.
O primeiro produto a ganhar liberação de produção e consumo no Brasil foi a soja transgênica produzida pela Monsanto, Roundup Ready (RR), em 1997. A soja é uma das principais commodities do mercado, uma vez que é utilizada direta e indiretamente em diversos subprodutos: consta que 50% dos produtos alimentícios industrializados contém um subproduto da soja (a lecitina, por exemplo), estando presente naqueles que substituem a lactose e nas muitas papinhas infantis.
Críticas
A liberação da soja no Brasil foi dada pela Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia (CTNBio), condicionando a um monitoramento quanto a produção e consumo nos dois anos seguintes. “Consta que isso nunca foi feito. A CTNBio também liberou para produção e consumo os principais alimentos da mesa do brasileiro: feijão, arroz e milho. Também autorizou o plantio de algodão, diversas vacinas para uso veterinário, enzimas e leveduras”, destaca Sarney Filho.
Ele observa ainda que a CTNBio é criticada por pesquisadores, ONGs e movimentos sociais, porque estaria aprovando os transgênicos sem o devido cuidado científico. “O órgão, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, estaria apenas fazendo o que determina o mercado, desregulamentando a entrada de transgênicos, sem considerar o princípio da precaução no que se refere à saúde e ao meio ambiente.”
Rech Filho cita o caso de uma variedade transgênica de soja em estudo pela Embrapa e a empresa alemã Basf. De acordo com ele, essa nova soja, quando estiver em uso, poderá reduzir as emissões de gases estufa na atmosfera.
Edição – Newton Araújo
http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com.br/
Alimentos energéticos
Efraim Rodrigues
As perguntas mais simples são as que fazem aparecer as idéias mais criativas.
Outro dia ouvi “Dá para plantar 300 ha de feijão orgânico ?”. A pergunta ecoa o mantra de que faltaria comida se não usarmos herbicidas, fungicidas, inseticidas e bactericidas, e por isso mesmo vale a pena respondê-la com atenção. Há alguns anos eu pensaria comigo mesmo “- Mais um grande produtor querendo defender seu meio de trocar de caminhonete uma vez por ano, vamos mostrar alguns dados de contaminação de alimentos… ”
A pergunta, no entanto, não é sobre qualidade do alimento (da qual tratamos nas duas últimas colunas), mas sobre quantidade, e veio quando a prosa era sobre o consumo de energia na agricultura.
Já parou para pensar quanta energia a agricultura gasta ? Não se limite ao diesel dos tratores e máquinas. Pense nas indústrias sintetizando nitrato (o N vem do ar, mas precisa de muito combustível para tornar-se sólido), que então monta no caminhão e roda o país inteiro até chegar nas propriedades. Pense em todos agrotóxicos consumidos, na água bombeada, no transporte, embalagem e refrigeração até o consumo final.
O Presidente do Uruguai José Mujica há alguns meses perguntou o que aconteceria se os hindus tivessem a mesma taxa de carros per capita que a Alemanha. Ele deve ter escolhido a Alemanha para facilitar a conta, porque lá existe um carro por pessoa. Como a população da Índia é de 1,2 bi, a resposta é fácil. Se houvesse um carro por pessoa na Índia, só ela teria mais de um 1 bilhão de carros, dobrando a quantidade atual no planeta. Se você quiser prosseguir, os EUA tem 5 carros para cada 4 pessoas e a China tem 1,3 bi de pessoas.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado para a Agricultura. Para alimentar o mundo inteiro com o sistema norte americano, intenso em energia, gastaríamos algo como 80% da energia disponível no planeta, e isto só para alimentação (veja a tradução do artigo na Science).
Então, a resposta para a pergunta lá do início é sim, é possível ter grandes áreas de produção orgânica, em especial daqueles sistemas menos intensos em consumo de recursos. O único problema é que esta área não poderá estar toda junta, na mão de uma única pessoa, porque daí não haveria como controlar a explosão de pragas e doenças.
E agora sou eu quem pergunta: É possível para o mundo arcar com o gasto energético da produção agrícola convencional em mais do que algumas ilhas ricas nos EUA e Europa ?
Monique Robin, que tem trabalhado numa série documental de três partes sobre a contaminação alimentar desde 2008, acaba de lançar o seu mais recente trabalho, “Les Moissons du Futur” (As Colheitas do Futuro, em português), que se debruça sobre a questão da “agroecologia”, uma combinação entre a agricultura, a sustentabilidade e a protecção do meio ambiente.
http://jornaldeangola.sapo.ao/18/0/pesquisadora_francesa_afirma_ser_possivel_alimentar_o_mundo_sem_uso_dos_pesticidas
em frances:
http://www.youtube.com/watch?v=qq8J7H3UGAU
Growing Doubt documentario sobre as falsas promessas dos transgenicos.
com legendas em portugues
http://www.youtube.com/watch?v=CNxhw2jiDtA&feature=player_embedded#!
Vídeos da campanha pela aprovação da proposição 37 (também conhecida como “Direito de Saber”), – um dos plebiscitos realizados junto com a eleição americana de 2012- que tratava da obrigatoriedade da rotulagem dos transgênicos na Califórnia. A proposição não foi aprovada.
A campanha campanha pela não aprovação da proposta 37, patrocinada por empresas do setor de alimentação e biotecnologia como Coca-Cola, Nestle USA, Monsanto, Dupont, Pepsico, Hershey e Kellogg, etc. recebeu mais de $ 46 milhões. A campanha do sim, que apoiava a proposição, teve um total $ 6 milhões em apoio e a adesão de vários artistas famosos.
Por que tanto investimento para evitar a rotulagem?
https://www.youtube.com/watch?v=Szq2GFYktG8
https://www.youtube.com/watch?v=Cj5sRnk8QOc
Agricultura industrial para alimentar o mundo
http://www.youtube.com/watch?v=-qfAGDPaNG0&feature=player_embedded