Por Anderson Moreira, Plataforma Dhesca Brasil
Fotos: Joka Madruga
Começou ontem (21) o Seminário Internacional “10 anos de Transgênicos no Brasil”, que conta com a participação de especialistas e integrantes de organizações e movimentos sociais nacionais e internacionais.
O objetivo do seminário é debater criticamente as consequências da liberação dos transgênicos e fortalecer modelos alternativos de agricultura. Os Organismos Genéticamente Modificados (OGMs) estão há uma década na agricultura e na mesa dos brasileiros, com muitas controvérsias sobre os riscos sociais, políticos, ambientais, econômicos e à saúde humana.
Na abertura do encontro foi realizada uma homenagem ao agricultor sem terra Valmir de Oliveira Mota, o “Keno”, que foi assassinado no dia 21 de outubro de 2007 por seguranças da empresa Syngenta.
>> Assista ao documentário sobre o assassinato de Keno
Dados apontam crescimento dos transgênicos no país
Larissa Packer, pesquisadora em biodiversidade, apresentou alguns dados que mostram o crescimento da liberação dos OGMs desde sua liberação. Segundo ela, 60% do território brasileiro, que tem 850 milhões de hectares, são ocupados por florestas; 67 milhões de hectares estão semeados, dos quais destes 37 milhões com transgênicos.
Os transgênicos foram liberados com a Lei de Biossegurança, publicada em 2005. A lei consolidou a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGMs e seus derivados
Em 2009 o país se tornou o 2º maior em área plantada, com 21,4 milhões de hectares, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que mantêm o cultivo dos transgênicos em 64 milhões de hectares.
De acordo com Larissa, o Brasil fez uma opção pelo agronegócio, em detrimento da área de biodiversidade. “A liberação dos transgênicos no Brasil foi uma opção governamental aliada à estratégia e interesse da indústria”, afirmou a pesquisadora.
Segurança alimentar
“O tema da segurança alimentar está hoje colocado na agenda política global”. É o que afirma o Relator do Direito Humano à Terra, ao Território e à Alimentação, Sérgio Sauer. Segundo ele, o tema voltou às discussões por uma série de razões, sobretudo a partir de 2011, quando a população mundial chegou a 7 bilhões de pessoas. Com o crescimento da população cresce também a preocupação com o quadro que aponta problemas futuros com a segurança alimentar. Estima-se que em 2050 o planeta atingirá 9 bilhões de pessoas e será necessário dispor de 1 bilhão de toneladas de grãos a mais para sustentá-las. Este debate tem relação, também, as mudanças climáticas e com a chamada “revolução verde”.
Para Sérgio Sauer, a crise dos alimentos levou ao reforço do discurso da escassez, que resulta na crescente demanda por produção e coloca o agronegócio como o “provedor” das necessidades. Para reforçar este discurso a mídia exerce um papel de construção da narrativa da escassez, de um lado, e da pujança da produção, no outro.
“A soberania alimentar e tudo o que ela envolve tem uma dimensão estratégica fundamental. A falácia do agronegócio está chegando ao fim. Precisamos entender a terra não como um meio de produção, mas como um lugar de viver”, diz Sérgio.
A ciência no debate
Membro do Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (GEA/MDA) e professora da Universidade de Paris, Magda Zanoni entende que é fundamental a importância da ciência no processo de liberação dos transgênicos.
Para ela, diante das atuais dificuldades em combater a liberação dos transgênicos é preciso questionar os métodos científicos para sua a provação. A missão seria começar a “cutucar” o problema da ciência, questionando se o papel dela é de contribuir para a redução da fome no mundo ou para uma tecnologia que é de propriedade dos movimentos sociais. “Não haverá mudança de modelo, não haverá agricultura familiar ou de outro tipo se não tivermos outros pesquisadores para fazer ciência”, conclui Magda.