Professor considera proposta insana

Jornal de Piracicaba, 02/08/2014

Procriação gera descendentes que morrem antes de chegarem à vida adulta

A Oxitec, fábrica que produz mosquitos transgênicos Aedes aegypti para combate à dengue, apresentou proposta no início do mês à Prefeitura de Piracicaba para realizar um teste piloto em uma área de proliferação do mosquito concentrada na cidade.

A Secretaria Municipal da Saúde informou que consultou um especialista em biologia de animais e está analisando a medida.

O coordenador do combate à dengue de Piracicaba, Sebastião Amaral, procurou o professor Carlos Fernando Andrade, do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), para mais informações sobre os mosquitos transgênicos.

O Jornal de Piracicaba teve acesso aos e-mails trocados entre Amaral e o professor, que se manifestou contrário à tecnologia por conta da quantidade de mosquitos que seriam necessários para diminuir o Aedes.

“A técnica de insetos estéreis faz necessário a liberação, no campo, de grandes quantidades de indivíduos. Para cada macho selvagem de Aedes devem ser liberados de cinco a dez transgênicos, e, para que haja uma diminuição significativa, eles devem ser soltos em pelo menos dois Verões”, disse Andrade.

O professor usou um caso que ocorreu nas Ilhas Cayman para exemplificar o uso dos transgênicos. No e-mail, ele contou que foram liberados em quatro semanas, 3 milhões de mosquitos geneticamente modificados.

“Os pesquisadores mostraram que houve uma supressão de 80% da população selvagem no local, em uma área pequena, de dez hectares (dez quarteirões). Se é isso mesmo, é insano, é forçar para dar certo. São 30 mil mosquitos para cerca de 90 casas”, argumentou o professor.

A Oxitec foi inagurada no dia 29 de julho, em Campinas, e é a primeira do Brasil a produzir mosquitos transgênicos. A fábrica ainda não possui licença para comercializar o serviço, que deve ser concedida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas já obteve aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança para realizar testes de campo.

O diretor global de desenvolvimento de negócios da empresa, Glen Slade, explicou que as fêmeas são responsáveis pela incubação e transmissão do vírus, mas ao procriar com os machos transgênicos, elas geram descendentes que morrem antes de chegarem à vida adulta, de modo que a população total de mosquitos é reduzida.

“Iniciamos testes há cerca de três anos na cidade de Juazeiro/BA e houve uma redução de mais de 80% da população que vive na natureza.”

Slade explicou que para uma cidade de 50 mil habitantes contratar o serviço, ela deverá investir de R$ 2 milhões a R$ 5 milhões por ano, e R$ 1 milhão para manutenção dos insetos nos anos seguintes.

A Oxitec desenvolveu os mosquistos Aedes aegypti trangênicos em 2002, a partir de uma microinjeção de DNA contendo dois genes nos ovos dos transmissores da dengue.

Um dos genes serve para impedir que os descendentes dos insetos cheguem à fase adulta e outro é para identificá-los sob uma luz específica.

DENGUE — Balanço da Vigilância Epidemiológica, órgão ligado à Secretaria Municipal da Saúde, aponta que até o dia 23 de julho foram confirmados 836 casos de dengue na cidade, de um total de 2.221 notificações de suspeita.

No mesmo período do ano passado foram 2.755 casos confirmados e 4.599 notificações. A secretaria destacou que, além das ações de rotina, que incluem visitas casa a casa, bloqueio mecânico e nebulização.

As equipes de combate à dengue iniciaram no dia 10 de julho os arrastões para eliminação de criadouros em toda a extensão do município. Até o final do mês de março de 2015 serão realizados 61 arrastões.

Reportagem: Carolina Gavioli