Greenpeace, 04/09/2014
O Greenpeace participou hoje da audiência pública sobre o eucalipto transgênico, realizada pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). O encontro é parte do processo de liberação comercial da variedade de eucalipto geneticamente modificada da FuturaGene / Suzano Papel e Celulose, desenvolvida com o objetivo de produzir mais celulose em menos tempo.
A audiência contou com a participação de representantes das empresas envolvidas, membros da CTNBio, cientistas autônomos, representantes de Ministérios, apicultores e representantes de ONGs e movimentos sociais. Caso o pedido seja aprovado pela CTNBio, o Brasil será o primeiro país do mundo a plantar árvores transgênicas em escala comercial.
Se o uso indiscriminado de soja, milho e algodão transgênicos já é preocupante, o pedido de liberação comercial feito pela FuturaGene / Suzano polemiza a questão ainda mais. Árvores vivem por muito mais tempo e fazem parte de cadeias alimentares naturais e de ecossistemas complexos, e portanto representam ameaças ambientais de longo prazo para ecossistemas ricos em biodiversidade – ameaças que podem ser difíceis (se não impossíveis) de prever e avaliar. O escape de pólen ou semente de árvores de eucalipto geneticamente modificadas pode colocar em risco a vida natural.
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“Não é à toa que nenhum país do mundo tenha autorizado o plantio comercial de árvores transgênicas até hoje”, lembra Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de agricultura e alimentação do Greenpeace Brasil. “É importante que a CTNBio tenha realizado esta audiência pública, porque ficou ainda mais claro que a liberação desta variedade transgênica de eucalipto poderá trazer danos seríssimos para o meio ambiente, para a população e para a economia”, acrescenta ela.
Durante a audiência, diversas intervenções pontuaram a insuficiência ou inadequação dos estudos apresentados pela FuturaGene / Suzano. Perguntada, a empresa declarou que não realizou, por exemplo, estudos específicos para comparar o consumo de água da variedade transgênica com a variedade convencional. Representante do Ministério do Meio Ambiente afirmou que não foram apresentados estudos de longa duração, e lembrou que os efeitos da soja e do milho transgênicos no médio e longo prazo não foram positivos. Destacou-se também que a Convenção de Biodiversidade, da qual o Brasil é signatário, recomenda cautela com relação a árvores geneticamente modificadas.
O representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário alertou que os estudos realizados para avaliar os efeitos do eucalipto nas abelhas e na produção de mel são insatisfatórios, pois levaram em conta apenas cinco colmeias de uma única localidade. Cerca de 25% do mel produzido no Brasil vem do eucalipto, e a pesquisa apresentada pela FuturaGene / Suzano não avalia os aspectos nutricionais do mel produzido a partir de pólen trangênico, tampouco sua toxicidade ou alergenicidade.
A Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (ABEMEL) se mostrou preocupada com a possível liberação: como não há aprovação desta variedade em nenhum outro lugar do mundo, as exportações brasileiras de mel e própolis poderão ser afetadas, numa situação semelhante à ocorrida no México em 2011.
“Com base nos estudos apresentados, não dá pra dizer que o mel produzido a partir destes eucaliptos é seguro para consumo”, alerta Gabriela. E questiona: “O que vai acontecer com os 350 mil apicultores brasileiros que dependem da produção de mel para sobreviver? E a produção orgânica de mel, própolis, pólen e geleia real? Liberar o eucalipto transgênico sem estas respostas é uma temeridade, uma irresponsabilidade”.
Selo FSC
Outra preocupação levantada foi a de que os critérios do FSC (Forest Stewardship Council) não aceitam variedades transgênicas para certificação florestal. A Assembleia Geral do FSC se reúne na Espanha, na próxima semana, e a Campanha Internacional para Parar Árvores Geneticamente Modificadas (CSGET, na sigla em inglês) irá apresentar uma carta, pedindo que o FSC se desvincule da Suzano caso a liberação do eucalipto transgênico seja aprovada no Brasil.