“Mosquito do bem”: pura jogada de marketing
Se a tecnologia já foi liberada pela CTNBio para uso comercial, porque a empresa segue com testes em seres humanos?
A reportagem diz que os mosquitos modificados não picam, acontece que a própria empresa reconhece que pelo menos 3% dos mosquitos transgênicos liberados no ambiente são fêmeas, e são as fêmeas que picam e transmitem a doença. O que acontece com uma pessoa picada por uma dessas “mosquitas”?
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G1, 11/03/2015
Comdema recorreu ao MP para pedir apuração sobre eficiência de método.
Prefeitura diz que alternativa de combate à dengue tem aprovação técnica.
O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema) de Piracicaba (SP) pretende impedir a liberação de mosquitos Aedes Aegypti geneticamente modificados, que não picam nem transmitem a dengue, na cidade. O projeto piloto foi anunciado no início do mês pela Prefeitura e pela empresa contratada que desenvolveu os insetos em laboratório.
A presidente do conselho, Sônia Cristina Ramos, disse que a entidade entrou nesta quarta-feira (11) com uma representação no Ministério Público (MP) para pedir uma investigação sobre a eficácia do método. O prefeito Gabriel Ferrato (PSDB) disse que a ação é política e que a iniciativa do governo local é sustentada pela aprovação de órgãos competentes.
Segundo Sônia, a tecnologia não deu resultados convincentes em outras cidades do Brasil onde foi aplicada. Piracicaba é o primeiro município do estado de São Paulo a usar os chamados “Aedes do Bem” como forma de combate à dengue. “A liberação dos mosquitos está programada para abril, queremos que o Ministério Público instaure um inquérito e os insetos só sejam soltos após uma confirmação técnica de que não haverá riscos à população ou impactos ao meio ambiente”, disse.
Ela afirmou que a representação foi motivada por uma reunião no Comdema com especialistas. No encontro, segundo Sônia foram elencadas algumas preocupações. “Os mosquitos não vão de fato reproduzir filhotes transmissores? Será que o vírus da dengue não vai se modificar e começar a exigir formas de combate da doença ainda mais complicadas? São questões como estas que achamos que devem ser respondidas. Se não houver riscos, o Comdema não terá nada contra a liberação dos mosquitos transgênicos”, disse Sônia.
O projeto
A Prefeitura e a empresa Oxitec do Brasil apresentaram em 2 de março como o mosquito “Aedes do Bem” atua. É uma linhagem geneticamente modificada, que não pica nem transmite a dengue.
O projeto contratado pela administração municipal prevê a liberação de filhotes machos produzidos em laboratório no bairro Cecap, onde há maior incidência de casos. O objetivo é a redução do número de mosquitos transmissores, já que as crias dos “transgênicos” com as fêmeas selvagens não chegarão à fase adulta.
(Foto: Alexandre Carvalho/Oxitec do Brasil )
O mosquito transgênico vive de 2 a 4 dias. Para que não cheguem à fase adulta, eles são criados com uma disfunção genética. De acordo a Oxitec, a previsão é de que sejam soltos em Piracicaba entre 1 milhão e 2 milhões de insetos modificados semanalmente.
Um trabalho semelhante foi realizado na Bahia, em cidades como Jacobina e Juzeiro, onde a redução na quantidade do Aedes Aegypti selvagem chegou a 90%, segundo a empresa.
Prefeitura
Nesta quarta-feira, o prefeito Gabriel Ferrato (PSDB) afirmou que a representação do Comdema tem motivação política, já que o projeto tem todas as autorizações de órgãos competentes. Ele afirmou ainda que a Prefeitura não tinha a obrigação de consultar o Comdema ou outro conselho municipal sobre a iniciativa.
Em nota, a assessoria de imprensa de Ferrato afirmou: “A avaliação dos riscos ao meio ambiente e à saúde humana foi feita pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o órgão colegiado responsável pela aprovação e regulação de organismos geneticamente modificados no Brasil. No dia 10 de abril de 2014, a CTNBio aprovou a liberação comercial do mosquito geneticamente modificado Aedes aegypti OX513A, também conhecido como Aedes aegypti do Bem, desenvolvido pela Oxitec. Ou seja: a CTNBio considerou que o Aedes aegypti OX513A não apresenta riscos do ponto de vista humano, ambiental, vegetal e animal.”
A nota da assessoria diz ainda que “a CTNBio é composta por 27 cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de notória atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada atividade profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente. Em nenhum momento a Secretaria de Saúde e a Oxitec do Brasil foram procuradas pelo Comdema”.