O representante da empresa que desenvolveu o mosquito diz que o inseto transgênico é muito pouco modificado. A afirmação é tão rigorosa do ponto de vista técnico quanto dizer que uma mulher está meio grávida.

De onde vem a segurança do secretário dado que ainda não foram apresentados estudos mostrando eficácia da tecnologia para reduzir casos de dengue?

G1, 19/03/2015 07h50

Método propõe soltar Aedes geneticamente modificados para reduzir casos.
MP questiona a eficácia do projeto e Prefeitura de Piracicaba se defende.
Secretário de Saúde de Piracicaba coloca a mão em mosquiteiro com 'Aedes do Bem' (Foto: Marcello Carvalho/G1)
Secretário de Saúde coloca a mão em mosquiteiro com Aedes do Bem (Foto: Marcello Carvalho/G1)

O secretário de Saúde de Piracicaba (SP), Pedro Mello, afirmou que o lançamento do mosquito Aedes aegypti geneticamente modificado, que não pica e nem transmite a dengue, é o único modo eficaz de tentar acabar com o problema da dengue no município. Nesta quarta-feira (18), o Executivo apresentou no Ministério Público a defesa do projeto, que tem o objetivo de lançar filhotes machos produzidos em laboratório, chamados de “Aedes do Bem”, para reduzir o número de mosquitos transmissores da doença. A Promotoria havia pedido a suspensão da iniciativa e instaurou inquérito para apurar detalhes.

“Existem duas alternativas de acabar com o problema da dengue. A vacina e o mosquito transgênico. Como a vacina ainda não existe, a gente tem a oportunidade de diminuir consideravelmente o número de criadores da doença com esse chamado Aedes do Bem. Isso é para tentar exterminar o vetor, é claro que temos ações de combate à epidemia, mas não é o suficiente”, afirmou.

O secretário de Saúde ainda afirmou que a defesa do projeto no Ministério Público consiste em responder as recomendações do promotor, como explicar quais ações são feitas pelo município no combate à doença, como nebulização, visitas às residências e remoção dos criadouros. Além disso, a administração detalhou tecnicamente no documento as funções do mosquito geneticamente modificado.

Explicações técnicas

O supervisor de produção da empresa Oxitec do Brasil, Guilherme Trivelatto, responsável por implantar o projeto, explicou que o lançamento do mosquito transgênico possui todas as regulamentações da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e que ele é eficaz porque diminui a população de mosquitos transmissores.

“O mosquito é muito pouco modificado [sic], ele não tem nenhum componente tóxico e ele morre depois de quatro dias no ambiente. Então a única função é se reproduzir e, assim, por ele ser geneticamente modificado, as crias não vão nascer e vão morrer na fase de larvas”, disse.A liberação está prevista para abril apenas no bairro Cecap, onde há maior incidência de casos de dengue no município. Conforme o último balanço, a cidade tem 270 infectados. Agora o Executivo espera o retorno do Ministério Público para saber se vai poder dar andamento ao projeto.

Inquérito

O texto do inquérito, assinado pela promotora Maria Christina Marton de Freitas, solicita à Secretaria de Saúde informações sobre as medidas adotadas pela Prefeitura no combate à dengue, as razões técnicas e os estudos que justifiquem o uso de biotecnologia e as medidas adotadas para o esclarecimento da população do bairro Cecap.

Além disso, a Promotoria e o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema), que entrou com a representação no MP, também solicitam quais são as obrigações previstas no contrato com a empresa Oxitec do Brasil, responsável por desenvolver o projeto, quanto ao monitoramento das populações de Aedes aegypti selvagens.

O mosquito transgênico vive de 2 a 4 dias. Para que não cheguem à fase adulta, eles são criados com uma disfunção genética. De acordo com a Oxitec, seriam soltos em Piracicaba entre 1 milhão e 2 milhões do inseto modificado semanalmente, uma média de 100 a 200 mosquitos por habitante do município.