População, que não tinha sido ouvida pela prefeitura, lotou audiência pública para saber mais sobre o Aedes transgênico
São Paulo – O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema) de Piracicaba realizou na noite de ontem (24) a primeira audiência pública para discutir os riscos da soltura de mosquitos Aedes aegipty geneticamente modificados no bairro Cecap, na zona leste da cidade.
Organizadora da audiência, a presidenta do Condema, Sonia Cristina Ramos, conta que o encontro foi um sucesso. Além de representantes da Oxitec, empresa produtora do inseto transgênico, da prefeitura, de cientistas – entre eles os professores José Maria Gusman Ferraz, do programa de pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural da Ufscar, e Paulo Kageyama, da Esalq/USP – e ativistas, compareceram muitos moradores.
“Em Piracicaba, audiência pública não costuma reunir mais do que 30 pessoas. Ontem lotamos o plenário e dezenas de participantes ficaram do lado de fora, o que demonstra o interesse da população pelo tema”, afirma Sonia Cristina.
De acordo com ela, como nem todos os questionamentos foram esclarecidos pela Oxitec, será convocada nova audiência para a segunda semana de abril, ainda sem data e local confirmados.
No começo de março, o prefeito Gabriel Ferrato dos Santos (PSDB) anunciou a compra de um lote dos insetos da Oxitec, pelo “valor simbólico” de R$ 150 mil, para ser soltos em abril. No entanto, não ouviu a população e nem os conselhos municipais de Saúde e de defesa do Meio Ambiente.
Quando tomaram conhecimento da soltura dos insetos, pelos jornais, os integrantes do Condema consultaram os professores da Ufscar e da Esalq, entre outros especialistas, e entraram com representação no Ministério Público estadual, pedindo a suspensão da soltura dos insetos até que a população seja esclarecida sobre os riscos à saúde e ao meio ambiente, uma vez que estarão em contato com organismos geneticamente modificados que nem sequer tiveram comercialização e uso aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Na semana passada, o Ministério Público estadual recomendou – e a prefeitura atendeu – a suspensão da soltura dos insetos. E abriu inquérito civil público para apurar possíveis irregularidades no contrato que o poder público municipal assinou com a Oxitec.